??? O que se sabe do atentado a tiros que matou Shinzo Abe, ex-premiê do Japão
Por Yvette Tan e Robert Greenall, da BBC News
O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe morreu após um ataque a tiros nesta sexta-feira (08) na cidade de Nara, na região central do Japão.
Abe foi baleado duas vezes enquanto fazia um discurso na manhã de sexta-feira. O atirador, de 41 anos, foi preso.
De acordo com a emissora pública NHK, o suspeito — que foi identificado como Tetsuya Yamagami, morador de Nara — usou uma arma artesanal.
Reportagens da imprensa local dizem que ele seria um ex-integrante da Força de Autodefesa Marítima do Japão, o equivalente japonês da Marinha.
Abe foi levado para o hospital após o ataque, mas após diversas tentativas de ressuscitá-lo e uma transfusão de sangue sua morte foi declarada às 17h03 do horário local (5h03 da manhã de Brasília).
Em uma entrevista coletiva, um médico disse que a equipe passou quatro horas e meia tratando Abe. Ele confirmou que Abe chegou com dois ferimentos, um deles no pescoço e grande o suficiente para chegar ao coração. Nenhuma das balas foi encontrada durante a cirurgia.
Os ferimentos eram profundos e a causa da morte foi hemorragia.
“O ex-primeiro-ministro Abe foi baleado por volta das 11h30 da hora local (23h30 da noite de quinta-feira em Brasília) em Nara. Um homem, que se acredita ser o atirador, foi preso”, informou o ministro-chefe do governo, Hirokazu Matsuno, a repórteres, no primeiro relato oficial.
“Seja qual for o motivo, um ato tão bárbaro nunca pode ser tolerado, e nós o condenamos veementemente.”
O ex-primeiro-ministro tinha 67 anos.
O que aconteceu exatamente?
Abe estava fazendo um discurso em campanha eleitoral para um candidato na cidade de Nara, no sul do país, quando ocorreu o ataque. O evento aconteceu do lado de fora de uma estação de trem.
Durante o pronunciamento do ex-primeiro-minsitro, ele e sua equipe pareciam não ter notado a presença de um jovem de camiseta cinza e calça marrom, usando uma bolsa preta, ao fundo.
Por volta das 11h30 do horário local (23h30 de quinta-feira no Brasil), minutos após Abe começar seu discurso, imagens do evento mostram o homem avançando em sua direção. É possível ouvir os tiros e logo em seguida o ex-premiê cai no chão, visivelmente sangrando.
Vídeos circulando nas mídias sociais, que não puderam ser verificados, parecem mostrar paramédicos amontoados em torno de Abe no meio de uma rua após os disparos.
Enquanto as pessoas presentes no evento se abaixavam e se jogavam no chão assustadas, oficiais de segurança abordam o suspeito de 41 anos, que não tentou fugir.
Eles o jogaram no chão e o prenderam.
Abe foi levado de helicóptero para o Nara Medical University Hospital. Segundo relatos da imprensa local, ele ainda era capaz de falar nos minutos após o ataque, mas posteriormente perdeu a consciência.
O ex-primeiro-ministro já chegou em parada cardíaca ao hospital. Foram feitas diversas tentativas de ressuscitação e uma transfusão de sangue, mas ele foi declarado morto às 17h03 do horário local.
Segundo os médicos, Abe chegou com dois ferimentos, um deles no pescoço e grande o suficiente para chegar ao coração. Nenhuma das balas foi encontrada durante a cirurgia.
O discurso de Abe fazia parte de uma campanha de seu partido, o Partido Liberal Democrata, nas eleições para a Câmara Alta do Japão, que ocorrem no final desta semana. Após o atentado, ministros de todo o país foram convocados para voltar a Tóquio imediatamente, de acordo com a imprensa.
Suspeito e arma do crime
Testemunhas oculares disseram ter visto o homem carregando o que descrevem como uma arma grande e disparando duas vezes contra Abe por trás.
De acordo com a emissora pública NHK, o suspeito usou uma arma artesanal. Ela foi apreendida no momento da prisão.
O suspeito foi identificado como Tetsuya Yamagami, morador de Nara de 41 anos.
A NHK relata que o suspeito disse à polícia após sua prisão que estava “frustrado com o ex-primeiro-ministro e mirava Abe com a intenção de matá-lo”.
Ele também teria dito aos oficiais que “não guardava rancor contra as crenças políticas do ex-primeiro-ministro”.
Reportagens da imprensa local dizem que o suspeito seria um ex-integrante da Força de Autodefesa Marítima do Japão, o equivalente japonês da Marinha.
Não está claro como ele ficou sabendo sobre a participação de Abe no comício, uma vez que o evento foi confirmado apenas na noite de quinta-feira (7/7).
Análise de Rupert Wingfield-Hayes
Correspondente da BBC News no Japão
A primeira pergunta que muitas pessoas se fazem é: qual foi a arma usada e como o atirador a obteve?
A resposta parece ser que ele mesmo teria a construído. Fotos tiradas no momento em que o autor do ataque foi preso mostram o que parece ser uma espingarda de cano duplo improvisada ou caseira.
A violência com armas de fogo é muito rara no Japão. É extremamente difícil obter armas de fogo. Violência política também é extremamente rara.
Abe estava acompanhado por uma equipe de segurança. Mas parece que o atirador conseguiu chegar a poucos metros do político sem nenhum tipo de impedimento.
O ataque a tiros contra uma figura tão proeminente é profundamente chocante em um país que se orgulha de ser seguro.
O ex-primeiro-ministro
Abe, que foi o primeiro-ministro que mais tempo ficou no cargo no Japão, esteve no poder em 2006 por um ano e depois novamente de 2012 a 2020, antes de sair, alegando motivos de saúde. Ele revelou que havia sofrido uma recaída de colite ulcerativa, uma doença intestinal.
Ele ficou conhecido por suas políticas agressivas de defesa e política externa, e queria alterar a constituição pacifista do Japão no pós-guerra.
Ele também adotou uma política econômica que veio a ser conhecida como “Abenomics”, baseada na flexibilização monetária, estímulo fiscal e reformas estruturais.
Ele foi sucedido por seu aliado próximo, Yoshihide Suga, que mais tarde foi substituído por Fumio Kishida, o atual ocupante do cargo.
Incidentes de violência armada são raros no Japão, onde as armas de fogo são proibidas.
Em 2014, houve apenas seis incidentes de mortes por armas de fogo no Japão, em comparação com 33.599 nos EUA. As pessoas têm que passar por um rigoroso exame e testes de saúde mental para comprar uma arma — e mesmo assim, apenas espingardas e rifles de ar são permitidos.
Em todo o mundo o incidente foi rapidamente condenado. O ex-primeiro-ministro australiano Kevin Rudd classificou o ato de um “ataque aos defensores da democracia”.
O embaixador dos EUA no Japão, Rahm Emanuel, disse que Abe foi um “excelente líder do Japão e um aliado inabalável dos EUA”, acrescentando que os EUA estavam “rezando” por seu bem-estar.
? © Reprodução/Instagram/@安倍晋三
Rádio Centro Cajazeiras via Yvette Tan e Robert Greenall, da BBC News