Evangélicos participam da Marcha para Jesus e pela Família em Brasília 📸 © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (06/06/2025) revelam um crescimento no número de pessoas que se declaram fiéis da fé evangélica e das religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé. Ainda assim, as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, apesar da tendência de diminuição, o catolicismo segue predominante no Brasil, com preferência de 56,7% da população.

A população evangélica registrou um aumento de 5,2 pontos percentuais entre 2010 e 2022, passando de 21,7% para 26,9%. Essa expansão é observada no Brasil desde os anos 1940, com mais força entre os anos 2000 e 2010, quando subiu 6,5 pontos percentuais. Na última década, portanto, ela ocorreu de maneira menos acelerada.

Essa presença evangélica mostrou-se mais acentuada na região Norte, onde 36,8% da população com mais de 10 anos declarou fazer parte dessa fé. Em seguida, está o Centro-Oeste, com resultado de 31,4%. Em 244 municípios a crença protestante representa o grupo religioso predominante, e em 58 deles é professada por mais da metade dos moradores e moradoras.

O Censo não faz uma leitura qualitativa desse movimento, e a resposta para a tendência não envolve apenas um elemento e não pode ser simplificada. Ainda assim, a analista responsável pelo tema na pesquisa, Maria Goreth Santos, afirma que a tendência pode sugerir crescimento de adesão à religião frente a uma abertura maior da fé evangélica para a sociedade, em contraponto aos costumes anteriores, que eram de mais isolamento.

“Não tenha dúvida de que a flexibilização de comportamentos e valores dos evangélicos atraia mais fiéis. Antes havia valores morais, éticos muito acirrados, que faziam com que as pessoas não se identificassem tanto. Isso tem mudado bastante, principalmente com a influência dos evangélicos pentecostais, que trazem a perspectiva da teologia da prosperidade, o que flexibiliza um pouco um comportamento mais moralista, que antes fazia com que houvesse menos contato com as coisas da sociedade e com esses valores considerados por muitos anteriormente como mundanos”, explica.

Devotos recebem bençãos de candonblecistas durante as celebrações ao Dia de São Jorge, no centro do Rio de Janeiro 📸 © Fernando Frazão/Agência Brasil

As religiões de matriz africana, que englobam umbanda, candomblé e outras religiões afro-brasileiras, também apresentaram um aumento expressivo, embora em menor proporção. O grupo saiu de 0,3% em 2010 para 1,0% em 2022, um crescimento de 0,7 ponto percentual. Essas religiões têm sua maior concentração nas regiões Sul (1,6%) e sudeste (1,4%).

Maria Goreth Santos ressalta que, também neste caso, o censo não traz respostas definitivas sobre a mudança. Ainda assim, ela aponta que muitas pessoas que praticam as religiões de matriz africana preferiam responder que eram espíritas em pesquisas anteriores, por medo de retaliação e violência. Também entra na equação a valorização maior que a sociedade tem destinado à cultura afro-brasileira nos últimos anos.

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“Isso é mostrado com pesquisas qualitativas. Muitas pessoas não se declaravam umbandistas ou candomblecistas, mas sim como espíritas ou católicas, em função do medo, da vergonha, da retaliação. Os movimentos de valorização da cultura afro-brasileira e essa massiva campanha contra a intolerância religiosa teve esse reflexo aí, sim”, pontua.

Os resultados expressam a diversidade e o dinamismo de crenças no país e uma tendência histórica que já vinha sendo observada nos censos anteriores. Em 1872, quando foi realizado o primeiro Censo do Brasil, mais de 99% da população se declarava católica. Algumas diferenças de metodologia, no entanto, também podem explicar parte do cenário.

Há 150 anos, as duas únicas opções de resposta à pergunta sobre religião eram “católico” ou “acatólico”. Além disso, todas as pessoas escravizadas foram contabilizadas automaticamente como fiéis do catolicismo, que era a religião oficial do império. Na ocasião, elas somavam mais de 1,5 milhão, 15,2% do total de habitantes no território nacional. Entre 2010 e 2022, a queda foi de 8,3 pontos percentuais, passando de 65,0% para 56,7%.

Missa em homenagem a São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeeiro, celebrada pelo cardeal arcebispo, Dom Orani Tempesta, na Basílica de São Sebastião 📸 © Tânia Rêgo/Agência Brasil

No entanto, a Igreja Católica ainda mantém hegemonia em todas as regiões do país, sendo mais concentrada no Nordeste (63,9%) e no Sul (62,4%). Em 5.322 municípios, católicos e católicas são o grupo religioso predominante, e, em 4.881 municípios, representam mais da metade da população. Em 20 cidades, a proporção de católicos ultrapassa 95%, 14 delas estão no Rio Grande do Sul,

Os dados do Censo 2022 mostram ainda que a religião espírita também apresentou declínio de 0,3 ponto percentual, passando de 2,1% em 2010 para 1,8% em 2022. A maior concentração está na região Sudeste (2,7%). A pesquisa mostrou também um aumento de 1,3 ponto percentual na população que se declara sem religião, que saiu de 7,9% para 9,3%.

Desde 2000, o Censo introduziu as religiosidades indígenas no questionário de perguntas. Em 2022, a proporção de pessoas que se declararam adeptas dessas tradições é de 0,1% da população com 10 anos ou mais. O grupo possui presença mais notável em Roraima, que registrou o maior resultado entre as Unidades da Federação, com 1,7%.

Em relação ao acesso à internet domiciliar, o Censo 2022 revela que os espíritas são o grupo com a maior proporção de conexões em casa, atingindo 96,6%. As religiões de Umbanda e Candomblé também se destacam, com 94,3% de seus adeptos com internet no domicílio.

Os evangélicos (90,5%) e os sem religião (90,2%) também registram altos percentuais. O menor percentual de acesso à internet foi observado entre os adeptos das tradições indígenas, com 52,9%.

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Raça e gênero

O censo 2022 traz as informações sobre raça organizadas tanto pelo percentual de grupos raciais em cada religião quanto pela presença dos grupos religiosos em cada recorte de raça. A análise bidirecional da intersecção entre os dois temas possibilita uma compreensão mais ampla da diversidade demográfica do Brasil.

Entre as pessoas que se autodeclararam brancas, 60,2% disseram ser católicas e 23,5% evangélicas. No grupo da população preta, 30,0% se identificaram como evangélicas, e 2,3% como praticantes da umbanda e candomblé, sendo este o maior percentual para o grupo religioso em relação à cor ou raça.

Já em meio as que se declararam pardas, 29,3% afirmaram ser evangélicas. O grupo de pessoas amarelas teve 16,2% de respondentes que afirmaram ser “sem religião”, resultado mais expressivo para esse grupo racial. Entre indígenas, 42,7% eram católicas e 32,2% eram evangélicas.

O segundo tipo de análise aponta que 42,9% das pessoas católicas se autodeclaram brancas e 44% pardas. Na população evangélica, 49% eram pardas. Nas religiões de matriz africana, 42,9% eram brancas e 33,2% pardas. Já a população que se declara de tradições indígenas é composta em 74,5% por indígenas.

No que diz respeito ao gênero, há variações entre os grupos religiosos. As religiões católica (49,0% homens, 51,0%, mulheres) e tradições Indígenas (50,9% homens, 49,1%, mulheres) apresentaram uma distribuição mais equitativa de gênero.

Por outro lado, as religiões evangélicas (44,6% homens, 55,4%, mulheres), espírita (39,4% homens, 60,6%, mulheres), e umbanda e candomblé (43,3% homens, 56,7%, mulheres) mostram uma predominância feminina. Curiosamente, o grupo “sem religião” se destaca por ter uma maior proporção de homens (56,2%) em comparação com mulheres (43,8%).

Educação

Os grupos com as menores taxas de analfabetismo (para pessoas de 15 anos ou mais) foram os espíritas (1,0%) e os umbandistas/candomblecistas (2,4%). Em contraste, os adeptos das tradições Indígenas (24,6%) e os católicos (7,8%) registraram as maiores taxas de analfabetismo.

Entre as pessoas de 25 anos ou mais, os espíritas se destacam com o menor percentual de indivíduos sem instrução e com ensino fundamental incompleto (11,3%) e o maior percentual com nível superior completo (48,0%). Os umbandistas e candomblecistas aparecem em segundo lugar com 25,5% de pessoas com nível superior completo. 

Já entre os católicos, 38,0% não possuem instrução ou têm ensino fundamental incompleto, e 18,0% possuem nível superior completo. Os evangélicos (14,4%) e os de tradições Indígenas (12,2%) são os grupos com os menores percentuais de fiéis com nível superior.

Por Nara Lacerda, do Brasil de Fato

|📸 © Tânia Rêgo/Agência Brasil

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