Expansão de movimentos ambientalistas mostra um crescimento de adeptos do veganismo
📸 © Rita und Mit via Pixabay

Cerca de 7% da população brasileira concorda totalmente ou em parte com a afirmação de que é vegana, segundo levantamento realizado pelo Instituto Datafolha a pedido da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Além desse dado, a pesquisa também mostrou que 74% da população concorda, em algum grau, com a possibilidade de parar de consumir carne, o que ressalta a expansão de movimentos ambientalistas, como o veganismo e o vegetarianismo, além da consciência sobre a causa animal e ambiental na alimentação.

O veganismo é, de maneira geral, uma filosofia que se opõe a toda e qualquer exploração animal e ambiental consequente do consumo de carne, definido como filosofia ainda em 1944 pela The Vegan Society. Leslie J. Cross, vice-presidente da organização na época, sugeriu o sentido original como “princípio da emancipação dos animais diante da exploração do homem”. Desde então, o movimento se expandiu e tornou-se cada vez mais notório e versátil em seu objetivo, originando novas linhas com alinhamentos particulares.

Consumo industrial

No Brasil, a carne vermelha é um dos alimentos mais consumidos, seguido das carnes de frango, peixe e suína. O consumo é grande e a exportação ainda maior. Considerado o maior exportador de carne do mundo, apenas em fevereiro de 2025, o Brasil bateu o recorde de exportação de carne bovina do mês, com mais de 219 mil toneladas exportadas mundialmente, o equivalente a cerca de US$ 1 bilhão em faturamento.

A produção industrial e em alta escala de carne bovina, dentre seus vários impactos, afeta não somente a saúde dos consumidores, como o meio ambiente voltado a suas pastagens também. Assim, dentre suas várias consequências, Aline Martins, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP, considera que a redução do consumo da carne é essencial e urgente. “Pensando ambientalmente, sabemos que no Brasil mais de 70% dos gases de efeito estufa emitidos são devido aos sistemas alimentares, principalmente pelo desmatamento que, no caso do Brasil, muitas vezes é para produzir pecuária, soja e outras monoculturas”, detalha a professora.

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Agronegócio e meio ambiente

Entre 1985 a 2022, a área reservada à agropecuária no Brasil cresceu 50%. Um relatório de 2023 do Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas) mostra que dois terços (64%) da expansão da agropecuária no País – 64,5 milhões de hectares – são derivados do desmatamento para pastagem. Além disso, o rebanho bovino brasileiro alcançou um recorde de 234,4 milhões de animais em 2022, com alta de 4,3% em relação ao ano anterior.

Muito além da causa animal, a redução do consumo de carne é uma escolha ambiental, visando a questões da diminuição do desmatamento, da disseminação de poluentes e muitos outros fatores, como explicado por Aline: “Dentro da produção de alimentos, a produção de carne bovina é o item que mais emite gás de efeito estufa, principalmente quando a vaca digere as gramíneas, libera metano, que é um potente gás de efeito estufa. Para a produção de 1 kg de carne bovina são liberados cerca de 40 kg de gás de efeito estufa, que é a mesma coisa, por exemplo, de um carro percorrendo cerca de 250 km”.

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Motivações e saúde

Sob aspectos gerais, o levantamento mostrou que, dos entrevistados, mais mulheres do que homens afirmam que parariam de comer carne e, dos favoráveis, eram menos presentes na região Centro-Oeste. Já sobre as razões para a diminuição do consumo, 43% dos entrevistados consideram o meio ambiente um fator determinante, enquanto 42% mencionam a causa animal.

Além destes, o consumo exacerbado de carne vermelha está associado a um aumento no risco de várias doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer. Dessa forma, para Aline, além dos benefícios ambientais, os benefícios à saúde são inúmeros. “O consumo elevado de carne leva a aumento do risco de doenças crônicas, como doenças do coração, câncer e diabetes. E essas são as doenças que mais matam no Brasil. Então, a gente reduzir o consumo de carne, quando é excessivo e frequente, pode ajudar a melhorar, a reduzir o risco do aumento dessas doenças no futuro.”

Por Yasmin Teixeira sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira, do Jornal da USP

|📸 © NK BLR/Pixabay

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