🌦 El Niño está intensificado pelas mudanças climáticas, trazendo chuvas mal distribuídas
Por Jornal da USP
O inverno começou sob a perspectiva da volta do fenômeno El Niño. Ele inverte os efeitos causados pela La Niña, fenômeno que estava em predomínio desde a metade do ano de 2020. Pedro Luiz Côrtes, professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explica as diferenças entre os dois fenômenos: “Tanto o El Niño quanto a La Niña são fenômenos naturais que ocorrem de maneira repetitiva, eles se alternam com um intervalo de dois ou três anos e a duração pode ser, por exemplo, de alguns meses, seis meses, até como aconteceu com o último La Niña, de ficar um ano e meio”.
O La Niña reduz significativamente as chuvas na região Sul do Brasil, “razão pela qual o Rio Grande do Sul passou por uma estiagem muito severa, prejudicando muito os agricultores e fez com que nós tivéssemos chuvas muito intensas no Nordeste e também no Norte do País”.
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O El Niño, por sua vez, reverte a situação, trazendo mais chuvas para a região Sul e parte da região Sudeste brasileira. “O problema é que essas chuvas não são necessariamente bem distribuídas. Nós podemos ter chuvas muito intensas em alguns locais e em outros locais praticamente não chove”, explica Côrtes. Além disso, o El Niño ocasiona um aumento de temperatura durante o inverno, mas, por conta da umidade na atmosfera, pode gerar nevadas na Serra Gaúcha e em Santa Catarina.
Neste ano, o El Niño tem previsão de se iniciar em julho e durar até o início do verão. Isso irá trazer chuvas para a região metropolitana de São Paulo, ainda que não bem distribuídas.
Impactos ambientais
Embora seja natural, o El Niño traz algumas preocupações, pois está sendo intensificado pelas mudanças climáticas: “Nós estamos retendo mais calor que vem do Sol pelo acúmulo de gás de efeito estufa e isso faz com que determinados processos ocorram com maior intensidade. Daí o grande receio de que esse possa ser um super El Niño, porque nós já pegamos um planeta que tem maior quantidade de energia armazenada, essa energia que nós recebemos do Sol e ele é um fenômeno que aquece águas no Oceano Pacífico Equatorial, próximo da América do Sul”, acrescenta Côrtes.
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Oficialmente, o Brasil ainda não entrou no período de El Niño. Um dos indicadores do início do fenômeno é o aquecimento constante das águas do Pacifico Equatorial durante ao menos três meses consecutivos. “O que nós estamos passando ainda é uma fase de transição, que é chamada fase de neutralidade, que, ao contrário do que possa indicar o nome, não é uma época de clima mais comportado. Na verdade, o clima se comporta de uma maneira muito extrema, nós podemos ter chuvas muito intensas como aconteceu recentemente no Rio Grande do Sul e podemos ter períodos de estiagem.”
O professor traz como exemplo São Paulo, durante o mês de junho de 2023: “Nós tivemos só quatro dias de chuvas e nós estamos até agora com déficit de menos 11% no volume previsto diante do histórico natural da região, então nós estamos diante de uma situação de clima mais seco”.
Economia de água
Com o aumento das chuvas no período de El Niño, há também um aumento nos níveis dos reservatórios de água. “Nós estamos numa situação favorável no que se refere aos mananciais, porque nós tivemos um período chuvoso muito intenso no verão”, diz Côrtes.
No entanto, isso não significa que a água possa ser utilizada sem responsabilidade, pois os períodos de seca podem retornar: “Nós estamos alternando períodos de estiagem intensa com períodos de chuvas também intensas. Então, é muito provável que a gente venha a enfrentar, ao longo dos próximos anos, períodos em que o nível dos mananciais esteja bastante reduzido. Se a gente consegue economizar agora, na verdade, a gente está guardando a água para esses períodos não tão favoráveis”, conclui.
📸 © Kitsun Yuen
Rádio Centro Cajazeiras