Você sabia que o Brasil é o país com a maior biodiversidade de árvores do mundo? Essa informação foi oficialmente reconhecida após a publicação de um levantamento inédito, que aponta a existência de 8.715 espécies arbóreas no território brasileiro — 14% das 60.065 existentes no planeta. 

Ao mesmo tempo, espécies que ajudaram a contar a história do país correm o risco de desaparecer nas próximas décadas. Uma delas é a Castanheira do Brasil, que dá o fruto castanha-do-pará, chamado internacionalmente de noz do Brasil (Brazil nut). O Mogno, também amazônico, foi extraído irracionalmente e já está praticamente extinto. Seringais estão seriamente ameaçados pelas queimadas na Amazônia, e já há mais Seringueiras na Ásia, para onde foi levada e é uma planta invasora agressiva, do que no Brasil, de onde é originária e não ameaça outras espécies. Até a Araucária, que emprestou seu nome tupi-guarani (Kur’yt’yba) à capital do Paraná, deve sumir da paisagem se a destruição da Mata Atlântica não for interrompida. 

A atual temporada de queimadas, uma das mais violentas da história do país, castiga, sobretudo, o Pantanal e a Amazônia. Neste dia da árvore, o projeto Clima que Queremos homenageia espécies representativas destes dois biomas brasileiros e explica o que a sociedade perde quando a megadiversidade biológica do país é destruída. 

Amazônia: Sumaúma (Ceiba pentandra)

Há três tipos de árvores: as pioneiras, que nascem primeiro, crescem rápido, fazem sombra para as demais espécies terem condição de se desenvolver e em geral morrem cedo, sem ficar muito grandes; já as secundárias, iniciais ou tardias, demoram mais para crescer, mas ficam maiores; e as árvores clímax, que crescem bem devagar e na sombra, têm porte robusto e madeira dura —  a chamada madeira de lei. 

A Sumaúma ou Samaúma é uma árvore secundária que mesmo com crescimento relativamente rápido pode atingir até 90 metros de altura, sendo, por isso, uma das maiores árvores da flora mundial. A espécie é um símbolo da Amazônia e consegue retirar água das profundezas, com longas raízes aéreas do tipo sapopemba, que em determinadas épocas se rompem, irrigando todo o entorno. 

Na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, um exemplar batizado de Vovó atrai turistas do mundo inteiro — calcula-se que esta árvore tenha pelo menos mil anos de idade. Para abraçar a Vovó é preciso reunir umas 20 pessoas de mãos dadas em torno de seu tronco, e alguns exemplares desta espécie chegam a ter o dobro deste tamanho.

A Sumaúma produz um tipo de algodão, chamado internacionalmente de kapok, uma fibra muito leve, de toque macio e sedoso, altamente inflamável e resistente à água e ao mofo e de ação antibacteriana. O material já foi usado como uma alternativa ao algodão para encher almofadas, colchões e para isolamento acústico no Brasil, mas foi substituída por materiais sintéticos. A crescente preocupação com o impacto ambiental da indústria da moda trouxe esta matéria-prima de volta ao mercado, mas bem longe da Amazônia — em Xangai, onde a startup chinesa Flocus investe em tecnologia para melhorar o aproveitamento da fibra. Foto: Climatempo/ Sumaúma/ Fonte: ICMBio

Pantanal: Aroeira verdadeira (Myracrodruon urundeuva)

Assim como ocorre com a fauna, a flora do Pantanal é extensa e variada. Há plantas amazônicas, do Cerrado, do Chaco boliviano, vegetação de gramíneas, pequenos arbustos, plantas rasteiras, ervas e árvores de grande porte, localizadas principalmente nas regiões mais elevadas. Uma das árvores mais emblemáticas da região é a Aroeira verdadeira (Myracrodruon urundeuva), conhecida pela qualidade de sua madeira, extremamente densa, muito durável, considerada a madeira brasileira mais resistentes às intempéries — pode aguentar até 100 anos sem tratamento. 

As qualidades desta planta quase fizeram com que ela tivesse o mesmo destino do pau-brasil, árvore que dá nome ao país, e que foi praticamente extinta. No Sudeste e no Nordeste, sua extração descontrolada fez com que se tornasse rara. São exatamente os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul — onde o fogo arde descontroladamente — os locais onde ela existe em quantidade. Isso porque, até antes da atual crise ambiental que já devorou quase 20% do bioma, o Pantanal era um dos ecossistemas mais preservados do país.

Por ser uma espécie ameaçada de extinção, a Aroeira Verdadeira só podem ser exploradas quando plantada, sendo proibida sua retirada de áreas de proteção. Como ela se desenvolve melhor em plantios mistos, principalmente se estiver com outras espécies arbóreas de rápido crescimento, seu cultivo é ideal para sistemas agroflorestais (modelo de agricultura de baixo impacto ambiental, que alia floresta e lavoura).  

Da casca é possível extrair compostos como a urundeuvina e a matosina, que têm ação antimicrobiana; anti-inflamatória e cicatrizante. O conhecimento tradicional sobre essa planta indica uso em tratamentos de feridas crônicas, vaginites, hemorroidas e doenças bucais. Por suas propriedades medicinais e fácil ocorrência no Pantanal, a árvore foi incluída em um guia de sobrevivência para aquela região elaborado por técnicos da Embrapa. 

Via Climatempo

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