🎶🎤 Iguinho e Lulinha: dupla vira fenômeno do forró ao unir vaquejada a Alok
“Você pensa que é fácil dizer acabou e tchau?”, perguntam Iguinho, 21 anos, e Lulinha, 23, no início da música “Coração acelera”. O ritmo veloz, a sanfona afiada e os vocais que remetem ao aboio, o canto para chamar a boiada no sertão, entregam o estilo dos irmãos: forró de vaquejada.
Iguinho e Lulinha desbancaram estrelas do forró com versos ainda mais sofridos que a concorrência: “Veja nossos filhos, você vai abandonar”, eles lamentam. A narrativa trágica é outra marca do estilo que eles cresceram ouvindo no povoado de Curituba, em Canindé de São Francisco (SE).
Mas a melodia é mais recente que as toadas do sertão sergipano. “Coração acelera” é uma versão de “Hear me now” hit eletrônico em inglês, de 2016, dos brasileiros Alok, Bruno Martini e Zeeba. Com a nova letra em português e o arranjo de vaquejada, a faixa disparou nas paradas de forró.
Forró tipo importação
O repertório deles tem canções originais e outros hits em inglês com novos versos em português: “Vai sentir falta de mim” (“Paradise”, do Coldplay), “Boy da Hilux” (“Someone you loved”, de Lewis Capaldi), “Vaqueira” (“Thank You”, da Dido) e “Te quero mais” (“Sweet child o’ mine”, do Guns N’ Roses).
A dupla sergipana não está sozinha: o forró teve vários hits recentes reciclados e não autorizados de Bon Jovi (“No ouvidinho”, de Felipe Amorim), Miley Cyrus (“Se joga no passinho”, de Brisa Star) e James Blunt (“Coração cachorro”, de Ávine Vinny e Matheus Fernandes).
Iguinho e Lulinha são líderes absolutos dos rankings do Sua Música, site especializado no mercado nordestino. No fim de 2022 eles assinaram com a Top Eventos, grande escritório de Pernambuco, casa de João Gomes e Tarcísio do Acordeon – outros jovens astros que retomam a vaquejada.
Willas e Wingles
Até o título da dupla é adaptação abrasileirada dos próprios nomes de batismo. Lulinha (apelido de infância de Willas Belem Marques) e Iguinho (Wingles Belem Marques) são filhos e netos de cantores de toadas da região, e bisnetos de Zé Leobino, um vaqueiro lendário do Sergipe.
Incentivados pela família, cantam juntos desde que Iguinho tinha 5 anos e o irmão, 7. A formação de dupla é rara no forró atual, dominado por cantores solo ou bandas. Mas os irmãos seguem os ícones do subgênero da vaquejada dos anos 1970, Vavá Machado e Marcolino.
Ao contrário das duplas sertanejas, o esquema de Iguinho e Lulinha não é baseado em primeira e segunda voz juntas, mas de versos alternados entre os irmãos.
Teclado na moto
“O sonho do meu avô era a gente seguir essa carreira. Desde pequeno a gente já ia para as cavalgadas”, conta Iguinho. “A rádio local já era caminho da roça para nós. O locutor ia procurar nós dois para entrar no ar e a gente estava lá brincando com terra, como crianças normais”, lembra Lulinha.
Há oito anos eles montaram um show e foram para a estrada. “Começou só com a gente e um teclado”, diz Iguinho. “A gente cansou de fazer show em duas motos. Ia um em uma moto e o outro com o tecladista atrás e o teclado no meio”, descreve Lulinha.
Aos poucos eles foram aumentando a banda e a lista de músicas. Além das versões gringas, eles cantam canções brasileiras originais, como “Te amar, te amar”, do piauiense Paulinho Paixão, e algumas composições com participação de Iguinho, como “Volta morena”.
‘Emoção tipo a do roqueiro’
Mais importante que o repertório, com canções que costumam ser repetidas por vários artistas, o que faz a diferença no mercado é a interpretação: as vozes abraçam a intensidade da vaquejada, um ritmo quente e sofrido ao mesmo tempo, do qual os dois são íntimos.
“É, aquela coisa bem ‘aaaai’, bem triste”, descreve Lulinha. “Só que, para a gente que vive isso desde pequeno, é uma alegria, dá aquele arrepio, uma emoção tipo a do roqueiro quando tem aquela música pesada”, ele ensina.
Lulinha lá
Uma lição mais recente aprendida por eles foi levar na brincadeira a coincidência do apelido de Lulinha com o do presidente eleito na campanha acirrada do ano passado.
“Tem gente que votou no Lula e diz que gosta ainda mais da dupla por causa do meu nome. Mas tem gente que quer tirar foto só com o Iguinho”, diz o pragmático Lulinha, que evita a polarização e aceita fãs dos dois lados.
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Rádio Centro Cajazeiras via G1