O Ministério da Saúde faz os últimos ajustes no plano nacional de vacinação contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A ideia do governo é que o protocolo seja divulgado até o início de dezembro.

Uma câmara técnica finaliza os pontos da estratégia de vacinação, mesmo sem nenhum imunobiológico ainda aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A medida é necessária para organizar a rede e preparar o Programa Nacional de Imunizações (PNI) a fim de disponibilizar o produto no Sistema Único de Saúde (SUS).

Ao todo, o governo brasileiro pretende oferecer, ainda no primeiro semestre de 2021, cerca de 140 milhões de doses das vacinas contra o novo vírus. Esse é o número dos primeiros acordos firmados até agora. Até o fim do próximo ano, no entanto, o montante deve chegar a 300 milhões de imunizações.

A quantidade prevista é composta pelas vacinas produzidas pelo laboratório AstraZeneca e pelo consórcio internacional Covax – sem a Coronavac chinesa, alvo de uma “guerra” com São Paulo e o governador João Doria (PSDB).

Como ainda não há clareza sobre o tempo de permanência dos anticorpos gerados por cada vacina, trabalha-se com a ideia de que será necessária mais do que uma dose para manter a imunização. Por isso, o número de 300 milhões de unidades pode ser insuficiente para cobrir toda a população brasileira, hoje estimada em pouco mais de 209 milhões de habitantes.

Oficialmente, o Ministério da Saúde evita comentar pontos do protocolo, mas fontes da pasta adiantaram ao Metrópoles que está definido que quem tem 80 anos ou mais, indivíduos com comorbidades e trabalhadores da saúde serão os primeiros a serem imunizados. Nesse âmbito, são cerca de 20 milhões de pessoas.

Além disso, a vacinação não será obrigatória, e o governo fará um registro pelo Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) para controlar quem se imunizou.

A medida servirá para o Ministério da Saúde padronizar a vacina que cada indivíduo receberá. Ou seja, a pasta determinou que as doses a serem aplicadas deverão ser fabricadas pelo mesmo laboratório.

“O ministério está se empenhando para construir um planejamento que atenda a população. Agora, precisamos observar as determinações da Anvisa para consolidarmos a estratégia. O primordial é que o país tenha acesso a vacinas eficazes, seguras e de boa qualidade”, adiantou uma fonte que participa da construção do plano a ser implementado pelo PNI.

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, já afirmou que o governo gostaria de começar a vacinação em janeiro de 2021. Os produtos testados no Brasil precisam ter a eficácia comprovada e o uso liberado pela Anvisa.

Coronavac

Mesmo sem ter a intenção de comprar a vacina produzida com a tecnologia chinesa, o Ministério da Saúde acompanha os desdobramentos com os testes da vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório Sinovac. O produto centraliza a mais recente polêmica sobre o tema.

A Anvisa paralisou os estudos da possível vacina após a morte de um voluntário de 33 anos que participava do estudo em São Paulo. O Instituto Médico Legal de São Paulo (IML-SP) constatou que o caso trata-se de um suicídio, ou seja, sem ligação direta com a vacina.

Em outubro, após pressão dos secretários de Saúde, o ministro Eduardo Pazuello chegou a anunciar que o governo compraria 46 milhões de doses da Coronavac, um investimento de R$ 2,6 bilhões até janeiro de 2021. Contudo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mandou cancelar a aquisição.

“Por se tratar de um calendário que abarcará grande parte da população, nenhuma possibilidade [de vacina] é descartada, isso do ponto de vista técnico, científico. Porém, isso depende de decisões políticas, que são discutidas em outra esfera”, destaca um servidor da secretaria-executiva do Ministério da Saúde.

Metrópoles questionou o Ministério da Saúde sobre os impactos da suspensão dos testes da Coronavac na construção do calendário de vacinação e quais as possíveis medidas estudadas, mas não obteve resposta. O espaço continua aberto a esclarecimentos.

Inspeção

A atenção com a Coronavac foi confirmada pelo diretor-presidente da Anvisa, contra-almirante Antônio Barra Torres. Ao comentar a morte do voluntário, ele explicou que a agência tem um processo de inspeção de todas as vacinas. As declarações foram dadas nesta terça-feira (10/11).

Técnicos da agência visitarão a China para inspecionar a fabricação das vacinas. “Qualquer chegada de material [no Brasil] será verificada como sempre foi. Tudo transcorre dentro da normalidade para nós”, afirmou Barra Torres.

Ele ressaltou que a agência tem acompanhado todas os estudos para uma possível vacina. “Num protocolo que se espera uma adesão de parte da população não se pode deixar uma dúvida mal explicada”, concluiu.

Bolsonaro x Doria

A produção, compra e distribuição da Coronavac esbarra em uma disputa entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que são adversários políticos. O presidente já afirmou que a vacina tem um “descrédito” internacional.

Ao saber da morte, Bolsonaro disse que “ganhou” de Doria. O governo paulista acusou o presidente de fazer “guerra política” com a vacina. Se a compra da CoronaVac fosse mantida pelo governo, isso significaria 24% mais doses disponíveis já no primeiro semestre do próximo ano.

Via Metrópoles

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