Crise moral na CBF e o desejo de Bolsonaro ter Renato Gaúcho no lugar de Tite – © Lucas Figueiredo/CBF

A seleção brasileira sempre foi motivo de orgulho do Brasil, desde que entrou em campo pela primeira vez, em 1914. Mas, tal como uma mina de pedras preciosas em um garimpo, ela sempre foi uma fonte de polêmicas entre vários dirigentes da entidade por ela responsável: até 1979 a CBD (fundada em 8 de junho de 1914) e, desde então, a CBF que, neste domingo (6), teve seu presidente, Carlos Caboclo, afastado por um período de 30 dias, após ser acusado de assédio moral e sexual.

? Confira tudo que rolou na 2ª rodada e colocou o Fortaleza na ponta do Brasileirão

? YouTube fecha acordo com a FPF e vai transmitir o Paulistão a partir de 2022

Nos anos 50, a Copa do Mundo no Brasil foi o momento maior, em que a seleção ganhou impulso como uma equipe de alcance nacional e internacional. Um título no Maracanã era visto como uma prova de força do brasileiro, da identidade do País e, naquele momento, muitos políticos buscaram vincular sua imagem à da seleção nacional.

? Venda de bebidas alcoólicas está proibida por uma semana em Patos

Veio a derrota surpreendente, mas, desde então, a seleção brasileira se tornou um símbolo do Brasil, tão apaixonado por futebol e ao mesmo tempo prejudicado pela cobiça, casos de corrupção e pela falta de organização (João Havelange, ex-presidente da CBD e depois da Fifa).

Ciente da necessidade de um título, o então presidente da CBD, João Havelange, que ficou no cargo entre 1958 e 1975, resolveu blindar a equipe e montar uma estrutura organizada para a Copa de 1958, quando o Brasil conquistou seu primeiro título mundial.

Na ocasião, Paulo Machado de Carvalho fez um ótimo trabalho como chefe da delegação, buscando justamente evitar escândalos e problemas (na foto, Djalma Santos é examinado, durante a preparação para a Copa de 1958).

A popularidade da seleção só crescia e, com ela, os problemas políticos nos bastidores. O primeiro de grande impacto ocorreu nas vésperas da Copa de 1970. O então treinador, João Saldanha, acabou sendo demitido e substituído por Zagallo.

Até hoje prevalece a versão de que o presidente do Brasil, Emílio Garrastazu Médici, teve influência na mudança junto à CBF, pelo fato de Saldanha ser filiado ao Partido Comunista.

Na Copa do Mundo da Alemanha, em 1974, o clima da ditadura serviu para manter o grupo tenso. A opinião pública considerava que interesses políticos prejudicavam o grupo e o equilíbrio da equipe em campo.

Na opinião pública, houve uma espécie de “racha” entre paulistas e cariocas e pelo menos dois jogadores foram acusados de visarem seus interesses apenas. Na preparação, em 1973, a atmosfera pesada ajudou a provocar uma ruptura do grupo com a imprensa, no episódio conhecido como “Manifesto de Glasgow”.

Servindo aos interesses do governo militar, durante boa parte dos anos 70, o presidente da CBD foi o almirante Heleno Nunes, durante um período conturbado do futebol, em que o bairrismo prevalecia e a equipe nacional colecionava frustrações, mesmo com uma geração extremamente talentosa, formada por craques como Rivellino, Paulo César Caju, Ademir da Guia e jogadores iniciantes como Falcão, Sócrates, Zico, Júnior, Roberto e Reinaldo.

A sensação era de um abismo entre o talento do jogador brasileiro e os bastidores nebulosos da administração do futebol, como se a CBD fosse um centro permanente de crises, silenciosas ou não. Giulitte Coutinho (foto) assumiu a CBF em 1979 e, em mais uma crise, foi substituído por uma dupla, formada por Nabi Abi Chedid e Octávio Pinto Guimarães.

Nabi havia se candidatado à presidência da CBF com Octávio sendo vice, em uma disputa com ex-diretor de futebol da entidade, Medrado Dias, ligado ao Vasco e candidato da situação. Ambos, para evitar uma crise na seleção, chamaram o experiente técnico Telê Santana, em substituição a Evaristo de Macedo, que não pôde contar com os melhores jogadores, como Sócrates, Zico e Falcão, em sua passagem.

Estes anos 80, também turbulentos, com várias crises entre clubes e seleção, por um tempo comandada pelo competente e experiente Carlos Alberto Silva, tiveram como desfecho a eleição de Ricardo Teixeira, então genro de João Havelange, que pretendia montar uma estrutura visando à reconquista da Copa do Mundo.

Mas, mesmo com uma remodelação do Campeonato Brasileiro e a modernização da entidade, que culminaram com o título da Copa de 1994, os escândalos estavam sempre presentes.

Em 1990, por exemplo, ficou evidente a insatisfação dos jogadores com o que foi visto como uma ambição desenfreada da entidade. Descontentes com a premiação, eles esconderam o símbolo do patrocinador na foto oficial para a Copa de 1990.

Teixeira se manteve por mais de 20 anos no cargo e deixou a presidência em 2012, após uma série de acusações de corrupção, de contratos lesivos, de lobby com políticos, de sonegação, entre outras, renunciando em 2012 e sendo banido do futebol em 2019. Foi substituído pelo vice mais velho, José Maria Marin (foto), que também protagonizou escândalos.

Em 2015, Marin foi preso, antes de um Congresso na Fifa, na Suíça, com acusações de fraude, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, que, de acordo com as investigações, movimentou 150 milhões de dólares (algo acima de R$ 470 milhões na ocasião) em um esquema vigente pelo menos 24 anos, em operações relativas a direitos de transmissão e acordos de marketing em campeonatos na América Latina.

Marin foi transferido para prisão domiciliar nos Estados Unidos e, em dezembro de 2017, foi condenado por corrupção, tendo sido levado para a prisão, onde permaneceu até março de 2020, quando foi liberado e teve a pena reduzida em função da idade avançada e por ser do grupo de risco mais vulnerável à covid-19. Seu substituto, o então vice Marco Polo Del Nero, nunca mais deixou o País, desde 2015, por receio de ser preso.

Ele foi indiciado pela Justiça americana em 2015, acusado de corrupção no futebol. Também foi multado em R$ 3,5 milhões por corrupção, pela Fifa, que lhe deu uma suspensão vitalícia, acusando-o de aceitar presentes de forma indevida e de gestão desleal.

Eleito em 2018 para a presidência da CBF, após ser diretor-executivo na gestão de Del Nero, Rogério Langanke Caboclo, 48 anos, assumiu em 2019, para uma gestão que iria até 2023. Em 2021, porém, protagonizou diversas crises, sendo visto como intempestivo por muitos dirigentes e descontentado os jogadores da seleção ao participar da decisão de transferir a Copa América para o Brasil, em meio à pandemia, sem consultá-los. Em função das acusações, o Conselho de Ética da CBF determinou o afastamento temporário de Caboclo que, assim como Teixeira, Marin e Del Nero, se diz inocente.

Bolsonaro quer Renato Gaucho

O periódico espanhol “AS”, em edição publicada neste domingo (06), destacou que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (Sem partido), estaria se movimentando nos bastidores para que Tite seja demitido da seleção brasileira. De acordo com a publicação, o presidente quer alguém que esteja do lado de sua linha política, sendo Renato Gaúcho o favorito.

A publicação aponta que o governo teria montado um gabinete de crise para resolver a questão relacionada à seleção brasileira. O Brasil se ofereceu para sediar a Copa América, num momento em que o país se aproxima de uma terceira onda da covid-19. Assim como Tite, jogadores da seleção estão insatisfeitos com a decisão de realizar a competição no país, mas o presidente quer que os atletas joguem o torneio.

“O presidente do Brasil vê o boicote dos jogadores à Copa América como “uma guerra política” e quer nomear um novo técnico, ideologicamente alinhado ao seu governo”, diz o jornal. “A disputa da Copa América no Brasil já é, segundo os assessores de Bolsonaro, “uma questão de honra” para o presidente e a luta pelos internacionais de Canarinhos para disputar o torneio é vista como uma verdadeira “guerra política”. O presidente brasileiro realizou videoconferência entre dirigentes da CONMEBOL sem ser convidado e reafirmou seu apoio incondicional ao torneio”, completa o “AS”.

Os jogadores devem divulgar um comunicado sobre a polêmica participação na Copa América na próxima terça, após a partida contra o Paraguai, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Segundo a imprensa, a carta será uma posição contra a realização da competição no Brasil durante a pandemia.

Brasil e Paraguai nas eliminatórias

Paraguai x Brasil se enfrentam na noite desta terça-feira (08), a partir das 21h30 (de Brasília), no estádio Defensores del Chaco, em Assunção, pela oitava rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo.

Em meio à crise na CBF, a seleção canarinho tenta deixar de lado os problemas extracampo para manter a campanha perfeita nas Eliminatórias. O time comandado por Tite é o único que segue com 100% de aproveitamento e lidera a disputa, com 15 pontos. 

? © Lucas Figueiredo/CBF

Rádio Centro Cajazeiras via R7

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.

Participe de nossa Programação!