Comandado pela mente, o corpo é o principal objeto da dança, lugar de representações e vivências. O movimento, por sua vez, consiste num modo de existir presente na existência humana, como ensina a psicóloga Renata Borja, especialista em terapia cognitivo-comportamental. Ela enfatiza um conjunto de fatores que a atividade envolve: “Sob o aspecto da atividade física, há liberação do hormônio endorfina, que combate o estresse, e a dança em si produz a serotonina, o hormônio do prazer. São muitos os benefícios, já que ela faz o corpo criar recursos, preparando o sistema imunológico.

Como ação do momento presente, ela melhora a atenção e a concentração. Faz quem pratica estar presente naquele instante para vivenciar as sensações”.

Renata Borja explica que 40% do que a pessoa faz na vida é comportamento automatizado, ou seja, ela não presta atenção enquanto desempenha essas tarefas. Em uma aula de dança, quebra-se esse ciclo. É necessário estar atento ao movimento e ao passo, sentir a batida da música. Isso desvia o foco da preocupação. 

“Quando se vive o momento presente, energia é economizada porque se está mais concentrado. Isso explica a importância de um hobby, seja marcenaria, costura, bordado, culinária… É preciso estar atento à receita, as medidas, aos pontos.” A dança, sempre acompanhada da música, faz um bem ainda maior e nada impede que seja exercitada em casa, fortalecendo as pessoas em tempo de pandemia.

Um passo inicial pode ser vencer o sentimento de vergonha, lembra a psicóloga. “Você se autoriza a dançar na festa e não em casa? Medo de ser julgada? Por quem? Pelo filho, marido, pais, irmãos, o vizinho na janela? Se o fizerem, vão concluir que você está alegre, de bom humor, feliz, sendo engraçada, de bem com vida. E se convidar quem estiver em sua companhia, será uma hora de socialização”, provoca.

Ao recomendar que as pessoas afastem qualquer trava às sensações, e pensando no seu bem-estar, Renata Borja confessa ter dançado em casa com o filho caçula, recentemente, até as 5h, ao som do repertório típico dos anos 1980, o new wave. “Demos gargalhadas, conversamos e dançamos muito.”

Ela alerta paa o fato de que a maneira como cada um pensa está intimamente ligada à forma como vai se sentir e comportar. “Dane-se a vergonha. É para ser feliz agora. Livre-se das travas, do certo e errado, de que há só um jeito de fazer as coisas. Procure levar a vida com mais humor, se permita. Está com vontade de dançar? Basta colocar a música. Ao decidir fazer algo bom para você, estará investindo em sua saúde”.

CRIAR RECURSOS PARA O BEM-ESTAR

Para a psicóloga, a dança é uma ferramenta para lidar com a pandemia. Ela afirma que a maioria dos especialistas da área médica e das pessoas em geral se concentra nas medidas de proteção contra a COVID-19. “Elas se esquecem de criar recursos para, se pegarem a doença, não surtar. Por isso a importância de criar possibilidades de como lidar em caso de infecção. Senão, seguramente vai parar no hospital. É preciso fazer o melhor para cuidar do bem-estar, do organismo. Cuidado com a gente é também cuidar da saúde mental”, alerta.
Entre as ferramentas recomendadas pela psicóloga para que as pessoas fortaleçam a saúde mental estão a dança, alimentação de qualidade, reposição de vitaminas, prática de atividades físicas, consumo de uma taça de vinho de vez em quando, assim como um chocolate. “Tudo isso tem de ocorrer junto com o uso da máscara, higienização das mãos e distanciamento social”, diz.

Renata Borja destaca a ansiedade, apontada por muitos como ruim, como benéfica: “Ela é protetora na medida em que ao liberar o cortisol, por exemplo, é importante para ajudar a pessoa a sair de uma situação grave, além da adrenalina e da noradrenalina. O problema é que, com o estresse contínuo, o organismo não aprende a identificar o cortisol e aí o efeito é contrário, já não terá o mesmo benefício, o organismo vai inflamar”. 

MENTE E MOVIMENTO INTERCONECTADOS 

Durante a dança, o corpo libera hormônios que vão proteger o sistema imunológico. Se a pessoa não sabe dançar, basta pular. “Tudo na vida pode ser aprendido. Basta tomar uma decisão”, afirma a psicóloga.

Dane-se a vergonha. É para ser feliz agora. Livre-se das travas, do certo e errado, de que há só um jeito de fazer as coisas

Renata Borja, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental

Ela observa que as esferas do físico, psíquico e espiritual estão interconectadas. Ao cuidar de uma delas, o efeito ocorrerá em todas: “Uma influencia na outra. Cabe cada um decidir. Não é a situação que determina o problema, mas como o interpreta na condição de oportunidade, aprendizado e crescimento. Pensamento, emoção e comportamento também estão interconectados o tempo todo. Não, necessariamente, há  uma ordem. Eles podem vir juntos, mas eles se influenciam.

No consultório, Renata Borja costuma pedir aos pacientes que coloquem um lápis na boca e o segurem esboçando um sorriso. A ação se liga à química cerebral e o corpo tem uma sensação mais positiva, libera hormônios do humor. Do mesmo jeito, o exercício de se curvar e, depois, posicionar o copo ereto leva à percepção da mudança de postura, e do comportamento. “Usamos muito essa técnica com pacientes depressivos. Por meio do comportamento, é possível ativar o modelo de pensamentos e emoções mais positivas. A dança pode ser uma forma dessa ativação comportamental, vai estimular”. 

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Rádio Centro Cajazeiras via Estado de Minas

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