Victor e Leo, Naldo e DJ Ivis 📸 © Divulgação

Por Carol Prado, Juliene Moretti, g1

Em fevereiro de 2017, uma das duplas mais famosas do sertanejo virou notícia, não por mais um hit entre os mais ouvidos do país, mas por um caso policial grave: Victor Chaves, da dupla Victor e Leo, foi denunciado por agredir sua então mulher, Poliana, que estava grávida.

Um vídeo, que foi decisivo na investigação do caso, mostrava o cantor derrubando Poliana no chão e sendo violento com ela, no elevador do prédio onde o casal morava. Ele foi condenado em primeira instância em 2020.

Parecia o fim de Victor e Leo. Eles ficaram sem condições de seguir com a carreira, em meio à repercussão da história. Mas, em 2023, seis anos depois do episódio se tornar público, eles estão de volta para uma turnê de grandes proporções, com shows em estádios pelo Brasil.

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O g1 ouviu uma especialista em marketing sobre essa e outras histórias, para entender como artistas envolvidos em casos criminais conseguem voltar à ativa: quais são as estratégias que eles usam para reconquistar os fãs. 

Deboche

Em 2008, enquanto boa parte do sertanejo fazia sucesso com músicas de pegação, bebedeira e ostentação, os irmãos Victor e Leo viraram fenômeno cantando sobre Deus, casas simplesinhas, amores tranquilos e borboletas. Victor não era o principal cantor da dupla, mas era a cabeça pensante: compôs a grande maioria dos hits lançados ao longo da carreira.

A dupla Victor e Leo em apresentação surpresa no Villa Country, em São Paulo — Foto: Rubens Cerqueira / Divulgação
A dupla Victor e Leo em apresentação surpresa no Villa Country, em São Paulo
📸 © Rubens Cerqueira / Divulgação

Desde o emblemático disco “Borboletas” (2008), foram outros oito trabalhos até 2018, quando os dois anunciaram a pausa por tempo indeterminado, depois do caso de agressão.

Um ano antes, Poliana Bagatini, então mulher de Victor, tinha ido a uma delegacia de Belo Horizonte para fazer uma queixa contra o marido. Grávida, ela contou que foi agredida, jogada no chão e chutada várias vezes pelo cantor. Depois, foi impedida de sair do prédio por um segurança e pela cunhada.

Victor, que sempre negou a agressão, virou réu no caso. Em 2019, em meio ao processo, ele postou um vídeo em que simula uma entrevista consigo mesmo e aparece rindo da denúncia.

Para Jennifer de Paula, diretora de marketing, especializada em gestão de carreira e posicionamento de marca, a gravação foi um desastre estratégico. “Foi uma comunicação errada, utilizando deboche logo depois do caso”, analisa.

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“Quando você está andando na rua, alguém esbarra em você e logo em seguida pede desculpas, aquilo passa. Mas, se na mesma situação, a pessoa não se desculpa e ainda ironiza o que aconteceu, o impacto é muito maior.”

Victor foi condenado pela Justiça de Minas Gerais a 18 dias de prisão em regime aberto. Ele recorreu da sentença e o processo continua em andamento. O g1 entrou em contato com Poliana Bagatini, ex-mulher do cantor, mas não teve retorno.

Amor de irmãos

A volta de Victor e Leo aos palcos foi anunciada em setembro de 2023. A turnê de reencontro vai começar em março de 2024 e deve ter 30 datas no total. Todas em espaços com capacidade pra muita gente.

A primeira apresentação, por exemplo, será no Estádio do Morumbi, em São Paulo, com capacidade para até 60 mil pessoas, dependendo do formato do show. O g1 apurou que a venda de ingressos para a turnê tem superado as expectativas da organização.

Na madrugada do dia 23 de setembro, a dupla fez um show surpresa no Villa Country, espaço conhecido entre os fãs de sertanejo em São Paulo. A aparição da dupla unida mais uma vez, depois de cinco anos, foi celebrada por quem estava lá.

Até agora, nem Victor, nem Leo falaram sobre o episódio de agressão, em meio à divulgação do retorno. Num vídeo promocional da nova turnê, os dois apostam numa estratégia de exaltação da família para tentar reconquistar o público. A publicidade passa uma mensagem de que o amor de um irmão pelo outro foi o principal motor do reencontro.

“Se ele começasse agora a aplicar uma estratégia de reconquista, funcionaria melhor do que ele simplesmente voltar aos palcos como se nada tivesse acontecido, como está fazendo”, diz Jennifer.

“Não adianta você se colocar numa caixinha e achar que o público vai esquecer e vai te acolher da mesma forma que te acolhia antes”, conclui. Ela explica que uma boa estratégia de reposicionamento de marca, após casos como o de Victor, é composta por pelo menos cinco elementos. São eles:

  • Reconhecimento do problema: “Essa comunicação logo depois do caso não pode ser demorada.”
  • Aprendizado e mudança: “É importante mostrar que você realmente aprendeu com o erro.”
  • Colaborações estratégicas: “Algo que conforte o público de forma suave, para recuperar a confiança das pessoas.”
  • Monitoramento contínuo: “Para os profissionais do marketing, é importante estudar a personalidade do cliente, para fazer um trabalho de prevenção e saber como agir quando acontece algum problema.”
  • Tempo: “O Victor deveria ter apostado na consistência, para conseguir recuperar o público.”

As participações fantasmas de DJ Ivis

Outro protagonista recente de uma história criminal, o DJ Ivis era o que se podia chamar de fenômeno: hitmaker da pisadinha, ele emplacou “Volta bebê, volta neném”, com DJ Guuga; “Esquema preferido”, com Tarcísio do Acordeon; e mais uma infinidade de hits nas paradas brasileiras.

Em 2021, Pamella Holanda, então mulher de Ivis, publicou nas redes sociais uma série de vídeos em que aparece sendo agredida por ele. Uma das imagens mostra Pamella tentando pegar a filha bebê no carrinho, enquanto é agredida pelo marido.

DJ Ivis é vaiado durante show em São Paulo

Ivis foi preso em julho daquele ano. Também perdeu o contrato com a gravadora Sony, foi demitido da sua produtora, a Som Livre suspendeu a distribuição de seus lançamentos, as parcerias foram canceladas e ele chegou a ter músicas excluídas das plataformas de áudio.

Nas redes sociais, ele apareceu chorando, em um pedido de desculpas em vídeo. “Estou me vendo hoje sozinho, tentando ser forte, mas não existe mais força. Estou passando aqui para dizer, para cada um de vocês, para você que é mãe, para você que é filha, para você que é pai, eu errei, assumo meu erro.”

Foi um acerto do ponto de vista estratégico, na opinião da especialista. “Ele foi punido, fecharam as portas para ele e, então, ele reconheceu o erro e iniciou uma comunicação muito objetiva com o público, querendo dizer que estava usando a própria música como uma suposta terapia.”

O DJ Ivis ficou preso por três meses e, ao sair, foi tentando retomar a carreira. Participou da gravação do DVD dos Barões da Pisadinha, teve música no DVD de Wesley Safadão e produziu uma faixa gravada por Gusttavo Lima em 2022. “Fala Mal de Mim” foi parar na lista das dez mais ouvidas do Spotify no Brasil.

Mas ele fez tudo com muita discrição. Se antes o nome de Ivis aparecia estampado nas imagens promocionais das músicas e shows, agora o cenário é outro: ele virou uma espécie de participação fantasma.

Naldo foi perdoado?

Por outro lado, entre artistas que conseguiram reposicionar suas marcas depois de uma agressão, o caso de Naldo é o que mais chama atenção nos últimos anos.

Ele foi condenado em 2018 por agredir a mulher, Ellen Cardoso, conhecida como Mulher Moranguinho. Na época, ela denunciou o cantor por socos, tapas, puxões de cabelo e um golpe com uma garrafa.

Naldo foi condenado a quatro meses de detenção por ameaça e lesão corporal, mas a pena foi revertida para outras ações, como participar de um grupo reflexivo para homens. A Justiça também concedeu pra Ellen uma série de medidas protetivas. O artista teria que, por exemplo, manter distância de 100 metros da mulher, e não poderia ter contato com ela.

Mas, em março de 2018, o caso teve uma reviravolta: os dois acabaram se reconciliando. Em entrevistas, Ellen disse que amava o marido e decidiu perdoá-lo, apesar do julgamento do público.

Naldo Benny e Ellen Cardoso, a Mulher Moranguinho, no aniversário do MC Gui em maio de 2016 — Foto: Celso Tavares/G1
Naldo Benny e Ellen Cardoso, a Mulher Moranguinho, no aniversário do MC Gui em maio de 2016
📸 © Celso Tavares/G1

Cinco anos depois, Naldo vive uma espécie de novo auge, com a música “Love Love” (parceria com Melody) na lista de mais ouvidas do Brasil. Na internet, o nome do cantor é quase sempre relacionado à música ou aos memes que brincam com histórias mirabolantes contadas por ele. Quase não se fala sobre o caso criminal.

Para Jennifer, o posicionamento de Ellen foi essencial para o cantor conseguir se reerguer. “Ele perdeu fãs, seguidores, pessoas que alavancavam sua carreira, mas foi reconstruindo tudo com o tempo, trazendo o público de volta. E ela foi uma chave muito importante para que isso acontecesse.”

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