Ana Paula Sayuri Sato destaca a vacinação e cita a etiqueta respiratória como cuidado básico a ser adotado 📸 © Alice Mafra/Prefeitura de Olinda via Fotos Públicas

O Ministério da Saúde iniciou a Campanha Nacional de Vacinação Contra a Gripe, que deverá se estender durante o resto do ano. A vacina é atualizada anualmente e protege contra os vírus H1N1 (influenza tipo A, causadora da gripe suína), H3N2 (variante da influenza A) e influenza B — doenças sazonais, que circulam com mais frequência nos meses que correspondem ao outono/inverno.  

Hospital do Coração (HCor) de São Paulo, por exemplo, registra um aumento de 30% a 40% no número de atendimentos a queixas relacionadas ao trato respiratório ou cardiovascular nesta época do ano. Para Ana Paula Sayuri Sato, professora associada do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, diversos fatores contribuem para esse fenômeno: “Seja pelas baixas temperaturas e baixa umidade do ar, que pode levar ao ressecamento das mucosas das vias aéreas, como o nariz e a garganta, deixando-nos mais suscetíveis a infecções, além de interferir na resposta imunológica, seja pelo comportamento das pessoas de ficar mais tempo em ambientes fechados e locais de aglomeração”. Além disso, a amplitude térmica (diferença entre as temperaturas máxima e mínima em um determinado período) é maior e mais brusca e o ar mais seco aumenta a concentração de poluentes no ar.  

A professora explica que as doenças respiratórias mais comuns nesta época do ano, causadas por vírus ou bactérias, vão desde os resfriados comuns, a gripes, pneumonias (infecção dos alvéolos — pequenos sacos de ar localizados no pulmão, onde ocorre a troca gasosa —), bronquites (inflamação dos brônquios, tubos que transportam o ar do nariz ao pulmão), bronquiolites (inchaço e acúmulo de secreção nos bronquíolos — ramificações terminais dos brônquios —) e faringites (inflamação na parte superior da garganta). Também são frequentes outras enfermidades que não são causadas por microrganismos, a exemplo da asma, ou por alérgenos, poeira e ácaros, como a rinite, devido ao tempo seco.

“As pessoas mais suscetíveis a essas doenças são aquelas com o sistema imunológico imaturo ou comprometido, como os extremos de idade — crianças e idosos —, mas também quem possui comorbidades ou outras condições clínicas que afetam o sistema imune e também pessoas que usam medicamentos imunossupressores. Pode-se citar também povos indígenas, pessoas em situação de rua, trabalhadores da saúde, da educação, entre outros grupos”, explica Ana Paula. Esses indivíduos constituem o grupo de risco, classificação dada às pessoas que podem se contaminar com mais facilidade e/ou desenvolver quadros mais graves das doenças. 

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Vacinação

A especialista destaca que, apesar da importância e reconhecimento das vacinas, a baixa procura da população é um alerta: “As coberturas vacinais apresentaram um declínio importante desde 2016, atingindo níveis bastante preocupantes para a reintrodução de doenças já controladas, como o sarampo, a difteria e a poliomielite. O sarampo, por exemplo, que já foi controlado na década de 2000, voltou a circular em nosso país, causando grandes epidemias em 2018 e 2019, por exemplo, e,  em 2024 o Brasil foi recertificado como país livre de sarampo”. Ana Paula afirma que a sociedade médica está atenta a sinais do retorno do sarampo no País em 2025.

As vacinas são medicamentos imunobiológicos que estimulam o sistema imunológico a reconhecer e defender o organismo contra agentes infecciosos. Elas podem ser feitas a partir de partes enfraquecidas ou inativadas dos vírus e não são só uma forma de proteção para quem as toma, mas também para quem não pode ser vacinado por motivos de saúde.

“Diversas questões podem ter contribuído para as quedas das coberturas vacinais, como questões logísticas operacionais, horários de funcionamento das salas de vacinação e questões relacionadas à mudança do sistema de informação sobre os dados de vacinação, pais que hesitavam em vacinar seus filhos, que tinham dúvidas sobre a necessidade da vacinação, o receio de eventos adversos pós-vacina e a confiança na vacinação. Até mesmo o fortalecimento do movimento antivacina no Brasil e no mundo contribuiu para isso.” No entanto, a professora analisa que houve um aumento nas coberturas vacinais de 2022 a 2024, como a meta para primeira dose da vacina do sarampo e da vacina BCG.

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Ana Paula evidencia que o esforço para ampliar a cobertura vacinal foi pauta do Ministério da Saúde e do Programa Nacional de Imunizações. Para ela, a comunicação mais efetiva e transparente voltou a trazer mais segurança para a população. “O Programa Nacional de Imunizações percorreu o País todo para difundir o microplanejamento, que seria o planejamento detalhado e local das ações de vacinação, considerando cada realidade”, explica. A ação envolve aspectos de planejamento e logística da vacinação, treinamento dos profissionais e soluções viáveis ao local, como a vacinação extramuros, feita em comércios, no transporte, nas escolas.

Outras formas de prevenção

A médica evidencia que, aliada às vacinas, é possível adotar outros cuidados para prevenir as doenças respiratórias e fortalecer o sistema imunológico.  “A vacinação contra a gripe é fundamental, mas também temos as medidas de etiqueta respiratória que aprendemos muito durante a pandemia de covid-19, como a lavagem frequente das mãos, cuidados ao tossir e espirrar, evitar locais de aglomeração, uso de máscaras e de álcool em gel, aliados à boa alimentação, boa hidratação, repouso adequado e prática regular de atividades físicas”, recomenda. Evitar fumar ou se expor a ambientes com poeira ou fumaça e fazer um acompanhamento médico, de preferência anual, também são formas de diminuir as chances de contrair ou desenvolver essas doenças.

Por Isabella Lopes, sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira, do Jornal da USP

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