Conteúdo de matriz africana ainda é exceção nas aulas de educação física escolar 📸 © Divulgação

Por Jornal USP

Nas aulas de educação física escolar, o ensino de conteúdos de matrizes africanas e a educação intercultural ainda são realidades distantes, como constata uma pesquisa desenvolvida na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP. De acordo com a pesquisadora Gina Paola Mosquera Andrade, o ambiente escolar é propício para o aprendizado e reconhecimento das culturas que integram a sociedade. “Em um país multicultural como o Brasil, a diversidade pode ser explorada em diversos campos de conhecimento, estimulando sua valorização e identificação por parte dos estudantes”, recomenda Gina.

Ela é autora do estudo de mestrado intitulado Educação intercultural no componente curricular da Educação Física como intervenção ao fenômeno do multiculturalismo: Presença da matriz africana, que teve a orientação do professor Luiz Eduardo Pinto Basto Tourinho Dantas, da EEFE. A pesquisa foi realizada por meio de análise documental da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e uma revisão de escopo sobre o tema. Além disso, voluntários também foram entrevistados a fim de coletar dados empíricos para compor o estudo de Gina.

Quatro professores de Educação Física do ensino fundamental e médio de escolas municipais de São Paulo participaram da pesquisa, sendo dois homens e duas mulheres com idades entre 30 e 45 anos. A seleção dos entrevistados levou em consideração o conhecimento sobre o tema, assim, os participantes já tinham afinidade com a educação intercultural e os conteúdos de matriz africana.

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Quadro da BCN

Para realizar a investigação, a autora do estudo, Gina Paola Mosquera Andrade, realizou uma análise documental da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Ponto de vista dos professores

As respostas fornecidas pelos professores evidenciaram diversas barreiras para a implementação de uma educação intercultural. Apesar de estar presente nas diretrizes e bases da educação brasileira, sendo estabelecido pela Lei 10.639/03, o ensino do conteúdo de matriz africana nas aulas de Educação Física é bastante limitado.

O problema tem início já na formação dos docentes, visto que grande parte dos cursos na área não aborda o assunto ou o trata de maneira insuficiente. Mesmo durante o decorrer da carreira, o ambiente escolar dificilmente oferece oportunidades para os professores se aprofundarem no tema.

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Todos os entrevistados tiveram interesse e aprenderam sobre a cultura africana e afro-brasileira de maneira voluntária. Dessa mesma forma, conheceram as leis que asseguram o ensino do conteúdo. Para os participantes, a Base Nacional Comum Curricular também representa um obstáculo, pois conta com informações pouco claras.

Segundo o relato dos professores, existe resistência em pesquisar, ensinar e até mesmo aprender sobre o assunto. De acordo com as conclusões do estudo, a maior questão ainda é o racismo, que afeta a estrutura social e o meio acadêmico. A comunidade escolar como um todo apresenta preconceito com os temas de matriz africana, o que dificulta ainda mais a expansão e implementação desse conteúdo.

A busca por um ensino decolonial

Segundo o estudo, o Brasil é considerado um país multicultural. Por isso, é imprescindível que a educação intercultural esteja presente não só nas diretrizes e bases da educação, mas na sala de aula. “A educação intercultural faz mais do que reconhecer as diferenças culturais, ela favorece a criação de uma identidade pelos alunos e professores, e ajuda a promover o respeito e a tolerância, fazendo com que o preconceito sofrido por culturas como a de matriz africana diminua”, afirma a pesquisadora.

Educação intercultural favorece a criação de uma identidade pelos alunos e professores, e ajuda a promover o respeito e a tolerância – Foto: Marcos Santos/USP imagens

As entrevistas e análises feitas com artigos e documentos sobre o tema ajudaram a identificar os obstáculos para a implementação do ensino da cultura afro-brasileira e africana na educação física escolar, assim como formas de superá-los.

“A partir da pesquisa foi possível analisar que há várias metodologias que facilitam a implementação do conteúdo – o uso de literatura específica, jogos e brincadeiras, ensino e prática de lutas como a capoeira, danças como o samba e o maculelê. Fazer um aporte ao mesmo tempo teórico e prático contribui para que o aluno entenda o porquê desse aprendizado e reproduza esses conhecimentos”, pontuou a pesquisadora.

*Com texto da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE

|📸 © Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool

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