? Países da Europa com baixa vacinação veem aumento de mortes por coronavírus
Enquanto o aumento da vacinação derruba o número de casos, hospitalizações e mortes no Brasil, alguns desses indicadores voltaram a crescer em diversos países na América, Europa e em nações como Rússia e China.
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Os motivos vão desde os baixos índices de vacinação em países da Europa Oriental, onde crescem os casos e mortes, ao aumento da circulação de pessoas em regiões com imunização avançada, como Canadá e Inglaterra, onde as mortes crescem em ritmo menor do que o número de casos.
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Na Europa, a semana terminada em 19 de outubro contabilizou 1,3 milhão de casos, alta de 7% em relação à anterior, segundo o Centro Europeu de Controle de Doenças.
Embora países com altos índices de imunização já tenham ligado o alerta, o problema é mais grave na Europa Oriental em razão da vacinação lenta. Por lá, 12 países registram aumento de mortes há pelo menos duas semanas — em oito deles, há quatro.
O caso mais emblemático é a Romênia, onde a vacinação total atingiu apenas 31% da população, segundo a Universidade Johns Hopkins. Foram 226 mortes por 1 milhão de habitantes nas duas semanas encerradas em 21 de outubro. Esse índice é de 25 no Brasil e de zero na Islândia. Após quatro semanas com aumento dos óbitos, o presidente Klaus Iohannis classificou a situação como “alarmante”.
Empacada em 63% de vacinados, a Áustria cogita novas restrições sob o risco de “cair em uma pandemia de não vacinados”, nas palavras do premiê, Alexander Schallenberg.
Mas o avanço da covid também afeta países com alta imunização. Nesses locais, porém, a vacina impede que as mortes cresçam no mesmo risco que as novas infeções. Na Bélgica, por exemplo, a média de mortes por 1 milhão de habitantes era de 82 há quatro semanas, número que só não é maior porque a vacinação completa no país atingiu 74%. “Estamos numa quarta onda”, lamentou o ministro da saúde belga, Frank Vandenbroucke.
Na Inglaterra, o número de casos saltou de 49 mil na semana de 13 de junho para 326 mil na de 24 de outubro. Já as mortes e internações não seguiram a mesma tendência, indicando que “as vacinas desassociam a curva de contágio da de doenças graves e mortes”, afirmou no dia 20 o diretor-adjunto da OMS (Organização Mundial da Saúde), Michael Ryan.
Enquanto isso, na França, a agência sanitária local confirmou na semana passada a retomada epidêmica no país, após um período de baixa circulação do vírus e o fim de boa parte das medidas restritivas para controlar as contaminações. Segundo a agência, o número de casos graves também voltou a crescer desde o dia 18 de outubro.
Infectologista da Fundação de Medicina Tropical de Manaus, Noaldo Lucena atribui o avanço da covid em países do leste europeu à baixa taxa de vacinação, enquanto na Inglaterra e Bélgica a razão é outra: “A vacina serve para impedir o adoecimento grave e mortes, mas a infecção e transmissão não são totalmente evitadas”, diz.
Os vacinados reduzem os cuidados e voltam a circular. Isso justifica o aumento de casos, mas diminuição de hospitalizações e mortes.” Noaldo Lucena, infectologista
Já nas Américas, a situação preocupa em ao menos seis países, incluindo o “vacinado” Canadá. Mesmo com 74% de imunizados, o país enfrenta a quarta onda após queda no ritmo da vacinação em agosto: passou de 3,6 milhões de imunizados na semana de 4 de julho para 553 mil na de 24 de outubro.
Assim, os casos saltaram sete vezes, de 2.500 para 18,2 mil, enquanto as mortes aumentaram em proporção menor, de 76 para 256 óbitos, na comparação entre a semana de 18 de julho e a de 24 de outubro.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o infectologista Marco Aurélio Sáfadi reforça que “todas as vacinas aprovadas são extremamente eficientes para prevenir morte e hospitalização”, mas “elas não têm a mesma performance para prevenir transmissão”.
“Então mesmo em lugares com vacinação avançada, como no Canadá, pode haver surtos e transmissão importante do vírus se outras medidas de contenção não forem tomadas”, afirma o médico.
Atualmente com 58% de vacinados, o México parecia ter controlado a doença em maio, mas uma terceira onda elevou as ocorrências: 4.900 mortos na semana terminada em 5 de setembro. A vacinação em massa a partir de agosto derrubou os índices, embora o número de mortos continue em patamar elevado: 1.800 na semana terminada em 24 de outubro.
Após o que parecia o fim da segunda onda em agosto, o número de casos no Chile voltou a crescer em setembro, terminando a semana de 24 de outubro com 11 mil notificações, quase quatro vezes mais do que em 12 de setembro. A boa notícia é que a vacinação de 77% da população impediu o aumento de mortes, atualmente estabilizada em 60 por semana.
Com apenas 41% da população vacinada, Barbados vive uma onda de transmissão iniciada em agosto, quando saiu de 64 casos por semana para os atuais 2.300. No pequeno país de 287 mil habitantes, as mortes chegaram a zerar em 22 de agosto, mas bateram em 25 na semana terminada em 17 de outubro, o recorde no país.
Já a Nicarágua parecia ter estabilizado a doença na semana de 18 de abril, quando apenas 51 casos foram notificados. Na semana de 24 de outubro, porém, foram anotados 504 casos, número que só perde para as 718 ocorrências na semana de 3 de outubro.
Apesar de apenas 5,5% de vacinados, a campanha cresceu em outubro, impedindo que as mortes aumentassem na mesma proporção.
O Haiti vive sua quarta onda de covid. Em outubro foram 51 mortes, o maior patamar desde julho (123). O país não repassou seus dados de imunização para a Universidade Hopkins.
“A diferença da alta transmissão no Canadá para o Haiti ou Bermudas é que nos países pobres a vacinação não avança, aumentando hospitalizações e mortes. Já no Canadá, em países ricos da Europa e mesmo no Chile, onde a vacinação é alta, a letalidade diminui com o avanço da vacinação”, diz o professor da Santa Casa.
Em países pobres da América, a principal razão é a baixa cobertura e medidas de saúde públicas pouco efetivas: por lá é mais difícil disponibilizar máscaras, reduzir aglomerações e garantir obediência às medidas não-farmacológicas.” Marco Aurélio Sáfadi, Infectologista
Apesar de 75% dos chineses estarem totalmente vacinados, “desde 17 de outubro ocorreram vários surtos locais espalhados na China, e eles estão se expandindo rapidamente”, afirmou no domingo (24) o porta-voz da Comissão Nacional de Saúde da China, Mi Feng.
O surto de casos —não acompanhado de mortes— foi detectado pela primeira vez em 16 de outubro entre um grupo de Xangai que viajou por diversas províncias do norte da China, como Mongólia Interior, Gansu, Ningxia e a capital Pequim. Ao todo, 133 infecções foram relatadas até domingo, 106 ligadas a 13 grupos turísticos.
O governo chinês, que adota uma política de tolerância zero ao vírus, já impôs restrições. As agências de viagens estão proibidas de organizarem excursões para as províncias afetadas, enquanto a capital chinesa agora obriga os viajantes de lugares com casos confirmados a apresentarem um teste negativo e passar por 14 dias de quarentena.
A cidade também suspendeu uma maratona marcada para 31 de outubro e anunciou a detenção de seis residentes que supostamente infringiram as regras de distanciamento social. No dia 29, Pequim cancelou centenas de voos e pediu aos cidadãos que adiassem casamentos e realizassem funerais mais curtos.
Rússia
Se na China o aumento é pontual, a Rússia a pandemia nunca foi tão grave: foram 1.159 óbitos e 40.096 infectados em 28 de outubro, segundo dados do governo. Ao todo, o país contabilizou 142 mil casos na semana de 24 de outubro e 7 mil mortos no período, um recorde no país.
O avanço por lá se deve à imunização de apenas 33% dos russos, embora eles tenham desenvolvido quatro vacinas, como a Sputnik V. Para mudar o quadro, o país criou um feriado de vacinação entre 28 de outubro e 7 de novembro.
Até lá, salões de beleza, lojas de roupas, restaurantes, e outros serviços não essenciais permanecerão de portas fechadas. Como os hospitais estão lotados, Moscou pediu aos idosos que não saiam de casa por pelo menos quatro meses.
E o Brasil?
O infectologista da Santa Casa comemora a consolidação da campanha de imunização no Brasil. A grande vantagem, diz, é que “temos uma vacinação mais recente do que nos Estados Unidos, Israel e Reino Unido e por isso nossa imunidade ainda não caiu”.
“Mas não quer dizer que vencemos a guerra. É preciso continuar avançando: tem de dar a segunda dose a todos, vacinar as crianças e organizar uma flexibilização cautelosa e com vigilância atenta para retomar as medidas restritivas se necessário”, afirma.
Recentemente, o Rio de Janeiro autorizou a dispensa de máscara ao ar livre, enquanto São Paulo decretou o fim do distanciamento social. “Gostaria de ter uma vacinação um pouco mais avançada para iniciar as flexibilizações”, diz o médico.
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