José, filhos e a neta Mariah 📸 © Priscila Anacleto/Ascom Uneal

Por Carlos Madeiro, do UOL

O aposentado José Soares Costa, 75, é o mais novo zootecnista formado em Alagoas. O ex-agricultor e ex-produtor rural recebeu o diploma da Uneal (Universidade Estadual de Alagoas) no último dia 29.

Mas para concluir o curso, o sertanejo de Batalha (a 185 km Maceió) passou cinco anos viajando todos os dias em um trajeto de 100 km para estudar em Santana do Ipanema, também no sertão alagoano.

Eu nasci e cresci no campo, meu pai foi agricultor e foi agropecuarista. Trabalhei a vida toda na zona rural. Era um sonho da minha vida [me formar], que realizei agora.

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Ao todo, no mesmo dia, foram diplomados 13 formandos nos cursos de zootecnia e ciências biológicas.

Entrada há 10 anos

José, também conhecido como Asa Branca, ingressou no curso de zootecnia em 2013, quando já estava aposentado como vacinador animal da Secretaria de Agricultura de Alagoas.

Em 2018, concluiu as disciplinas e ficou apenas fazendo o TCC (trabalho de conclusão de curso). Em 2020, quando finalmente iria se formar, veio a pandemia.

Desde aquela época até o ano passado, as formaturas ocorriam de maneira virtual, e ele preferiu esperar. “Eu quis esperar para fazer presencial, todo mundo junto.”

Para a solenidade do dia 29, José levou a esposa Maria, os três filhos e Mariah, uma de suas 4 netas (fora um neto). “Só a gente sabe o que ele passou para conseguir chegar até aqui”, contou Maria.

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Viagem diária de 100 km

José exibe orgulhoso o diploma 📸 © Priscila Anacleto/Ascom Uneal

Para estudar, José enfrentava diariamente uma viagem de cerca de uma hora, entre seu município de Batalha até Santana do Ipanema. Eram cerca de 50 km de distância de sua casa, em batalha, até a Uneal em Santana do Ipanema —trajeto que ele fazia em um carro próprio.

Eu ia todos os dias úteis, de segunda a sexta, até mesmo o sábado tinha alguns que tinham aula.

Foram cinco anos de estudo das disciplinas, para finalmente chegar ao TCC, que ele fez questão de fazer em uma área de interesse coletiva do produtor sertanejo. “Fiz o projeto de melhoria em forragem, que é alimentação para vaca-leiteira”, conta.

Professor e orientador de José Soares, José Crisólogo de Sales Silva, contou ao UOL que José foi um aluno exemplo, que era um incentivador da turma.

Ele sempre tinha exemplos de vida para citar, sempre se colocou à disposição para contactar os fazendeiros para aulas práticas e estágio.José Crisólogo de Sales Silva

O tema exato do TCC de José foi “influência do estágio de lactação na composição do leite de vacas mestiças de girolando no semiárido alagoano.” Durante esse período, José visitou laticínios na região para colher informações e finalizou o trabalho com nota 10 na apresentação.

O professor troca conhecimentos com os alunos. O TCC, na verdade, é um upgrade dos conhecimentos de ambos: o aluno aprende, mas ensina –e vice versa. É uma troca de conhecimento. Todos os encontros nos trazem novas questões para reflexão, exigem observação e uma resposta conjunta.José Crisólogo de Sales Silva

O curso de zootecnia em Santana do Ipanema é o mais antigo do estado, criado em 1996, e hoje é uma referência para produtores do sertão alagoano.

Orientar ele e os demais filhos de produtores da região sertão e agreste de Alagoas sempre foi uma atividade prazerosa porque são alunos de uma vivência prática do campo, na lida diária. A bacia leiteira de Alagoas teve sua melhoria de produtividade graças a presenças dos zootecnistas formados na região.José Crisólogo de Sales Silva

Vida no campo

José Soares sempre teve a vida ligada ao campo. Ele conta que era agricultor e pequeno produtor rural em Batalha, mas depois passou a se dedicar ao campo de outra forma: se tornou funcionário público da Secretaria de Agricultura, onde começou a carreira ainda em 1970 —e fez carreira até se aposentar no final dos anos 1990.

Quando eu terminei o curso médio, pretendia fazer medicina veterinária por ser da minha área, mas não consegui. E depois passou a vida, eu casei, a família cresceu, veio o trabalho, as coisas vão acontecendo. Mas quando chegou o momento, com 65 anos, pensei em fazer zootecnia e deu certo.

E formando, qual o futuro?

Com 75 anos é meio difícil fazer concurso, arranjar emprego, mas eu tenho planos de fazer alguma coisa a bem da comunidade, a bem de mim e da minha família. Se tiver uma oportunidade para contribuir nessa área, eu estou pronto.

📸 © Priscila Anacleto/Ascom Uneal

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