Por Renato Ribeiro e Daniella Longuinho, da Agência Brasil

Tribunal do Júri do Rio condena Ronnie e Élcio por assassinar Marielle e Anderson
📸 © Tânia Rêgo – 2024.out.31/Agência Brasil

Após a condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, nessa quinta-feira (31/10), pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, familiares das vítimas falaram, com emoção e alívio sobre a sentença. A mãe de Marielle, Marinete Silva, disse que a decisão foi justa e que a luta ainda não acabou. 

“É uma condenação justa, digna pela memória, pela história. Pelo Anderson, que saía naquele dia para trabalhar. Por Marielle e por todos que ainda não têm justiça nesse país. Por isso que nós estamos aqui. É uma vitória sim. Vamos continuar. Não acaba por aqui, a nossa luta vai continuar.” 

Emocionada, Luyara Santos, filha de Marielle, comentou sobre o resultado do julgamento dos responsáveis pela morte da mãe. 

“Depois de quase sete anos, é muita dor ter que reviver tudo isso ao longo desses dois dias que foram extremamente exaustivos. Mas sabia que agora temos duas pessoas realmente responsabilizadas pelo caso. Hoje eu tenho certeza de que a minha família  e a família do Anderson vai dormir um pouco mais tranquila, só nesse primeiro passo, que a gente ainda tem muito pela frente.”

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Marielle e Anderson foram mortos em março de 2018
📸 © Arquivo/Reprodução/Facebook Marielle e Anderson

Já o pai de Marielle, Antônio Francisco da Silva afirmou que não vai perdoar os assassinos confessos da filha. 

“Eles merecem a pena dura que foi imposta a eles porque ninguém tem o aval para assassinar nenhuma pessoa, nenhum ser humano. A Marielle incomodava eles? Não! A Marielle estava fazendo o trabalho dela, trabalho correto, o trabalho de quem preza e quer uma sociedade mais justa, mais igualitária. Isso ela sempre defendeu. Esses foram os valores que nós passamos para ela, e ela seguia em frente. E eles covardemente assassinaram a nossa filha, juntamente com o Anderson.” 

Para a irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, a condenação dá força para a continuidade da luta pela condenação de todos os envolvidos.

“Quando eu chego naquele local, eu acho que eu nunca vou tirar essa imagem da minha cabeça. Via ali o sangue da Marielle derramado. Eu falei que a gente ia honrar aquele momento. Ainda sem entender muito o que estava acontecendo. Acho que hoje é a comprovação disso. Assim, não tem como normalizar. Eu falei um pouco disso ali, mas  a gente está num momento crucial no nosso país. Normalizar uma morte como a da Marille, um assassinato brutal. E as pessoas ainda acharem normal.” 

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A viúva do motorista Anderson Gomes, Ágatha Arnaus, disse que agora poderá abraçar o filho com orgulho.

“É muito emocionante. Eu acho que é, em muitos anos, a primeira vez que eu vou abraçar o Arthur mais orgulhosa, sabe? Poder contar para ele hoje isso vai ser muito bom. É um alívio, porque foi cansativo, fui muitas vezes com medo de não chegar nesse dia e o orgulho da gente, o orgulho no Anderson, da Marielle, da luta deles, do trabalho deles.”

Já a condenação dos mandantes foi cobrada pela diretora da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck.

“A gente começou aqui, mas ainda falta. A gente perguntou quem matou, e aqui se respondeu quem matou? Ronnie e Élcio de Queiroz foram apenados. Mas ainda falta quem mandou matar. E agora o Supremo Tribunal Federal tem que dar o seu recado: quem mandou matar e por que e como serão responsabilizados.”

O Ministério Público do Rio de Janeiro informou, nessa quinta-feira  (31/10), que pode recorrer e pedir aumento da pena para Élcio de Queiroz. O MP pediu penas de 84 anos para cada um dos acusados. Ronnie Lessa foi condenado a 78 anos, 9 meses e 30 dias por ter sido o atirador. Já Élcio, a 59 anos, 8 meses e 10 dias por conduzir o carro usado no crime. O promotor Eduardo Martins disse que, quando tiver acesso à sentença, vai olhar com calma e ver se é ou não o caso de recorrer. Para o MP, a diferença de 20 anos nas condenações pareceu uma discrepância grande.

|⚖️ Justiça condena Ronnie e Élcio pelo assassinato de Marielle e Anderson

Júri do Rio de Janeiro condenou o ex-policial militar Ronnie Lessa, autor dos disparos, a pena de 78 anos e 9 meses de prisão 📸 © RS – 2024.out.30/Fotos Públicas

Passados 6 anos e 7 meses dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou o ex-policial militar Ronnie Lessa, autor dos disparos, a pena de 78 anos e 9 meses de prisão, e também o ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o carro usado no atentado, com pena de 59 anos e 8 meses de prisão.

Réus confessos, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, foram denunciados pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público do Rio de Janeiro, por duplo homicídio triplamente qualificados, um homicídio tentado, e pela receptação do Cobalt utilizado no dia do crime, ocorrido em 14 de março de 2018.

O ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o carro usado no atentado, com pena de 59 anos e 8 meses de prisão
📸 © RS – 2024.out.30/Fotos Públicas

O julgamento durou 22 horas. Os assassinos também foram condenados a pagar R$ 706 mil de indenização para os parentes de Marielle e Anderson.

Ao proferir a sentença, a juíza Lúcia Glioche prestou solidariedade às vítimas e disse ainda que a decisão serve também para aqueles que praticam crimes e acham que sairão impunes.

Vale lembrar que assassinos fizeram uma delação premiada, o que levou ao avanço das investigações, chegando aos mandantes. O acordo pode reduzir as penas dos executores.

Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, respectivamente, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro e deputado federal, são acusados de serem os mandantes dos crimes. O delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio, é acusado de ter prejudicado as investigações. Os três estão presos desde 24 de março.

Um processo paralelo contra eles corre no Supremo Tribunal Federal, que julga os irmãos Brazão e o delegado Barbosa, por causa do foro privilegiado. 

|📸 © Tânia Rêgo – 2024.out.31/Agência Brasil

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