? “Fomos esquecidos”, diz quilombola que vive em comunidade rural no Amapá
Denison Costa mora no quilombo São Francisco da Casa Grande, a 12 quilômetros de Macapá. A comunidade é formada por 45 famílias que sobrevivem basicamente da extração e venda do fruto do açaí e estão acumulando prejuízos por causa do apagão que atinge o estado do Amapá desde a semana passada.
“Quem vende o açaí batido não tem onde bater porque não tem como ligar a máquina. E quem extrai o fruto não está fazendo porque não tem para quem vender”, afirma Costa.
Sem unidade de saúde, água encanada ou outros serviços públicos perto da comunidade, o quilombola diz que, antes do problema com a transmissão de energia elétrica, as famílias já recebiam pouca assistência. “Agora piorou. Fomos esquecidos. Essa é a verdade”, afirma.
O Amapá possui dezenas de comunidades quilombolas. Algumas delas ficam próximas da capital. O Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena) está acompanhando as comunidades atingidas pelo apagão. “Pior que, assim como as áreas rurais, elas pagam uma das taxas mais caras do país”, diz a presidente do Imena, Maria Dolores Almeida.
A comunidade ficou completamente sem energia elétrica entre os dias 3 e 10 de novembro. Agora, entrou em um sistema de rodízio. “Por um lado foi bom porque a gente começou a ter água, mas por outro lado a gente tá tendo prejuízo financeiro do mesmo jeito, pois estamos tendo a perda de eletrodomésticos”, diz Costa. “A gente nunca sabe quando a energia vai voltar ao certo e ela volta forte. Aí os aparelhos não aguentam a potência. Meu freezer queimou.”
“Aqui tivemos um prejuízo imenso. Já foram dez lâmpadas, uma televisão, um aparelho de som e uma geladeira”, diz Ana Rita Silva, moradora do quilombo Conceição do Macacoari, a 78 quilômetros de Macapá.
Alguns quilombos estão recebendo doações de água potável e cestas básicas arrecadadas em campanhas promovidas por empresas privadas e instituições públicas. “Todas as famílias já receberam cestas básicas e isso veio ajudar muito nesse momento”, conta Ana Rita.
Ontem, o quilombo São Francisco da Casa Grande recebeu produtos doados.
Sem o abastecimento regular de energia elétrica, alguns moradores têm de viajar e chegam a enfrentar filas para comprar mantimentos e combustível. Ana Rita conta que famílias que vendiam frutas congeladas perderam estoque e um vizinho, que cria frangos, teve o gerador queimado e precisou “se virar” para comprar outro. “É muito desgaste”, comenta. “São pessoas autônomas, né? É você perder tudo e começar do zero.”
Apagão começou no dia 3
O Amapá está sem energia elétrica desde o dia 3 de novembro, por causa de um incêndio em uma subestação em Macapá. Um laudo preliminar detectou que o fogo começou após uma peça do transformador superaquecer. Esse mesmo laudo descarta que foi um raio o causador da avaria do transformador. Além disso, o para-raios do local não acusou nenhuma anormalidade.
Dos três transformadores no local, um pegou fogo e sobrecarregou o segundo, que acabou danificado. O terceiro já não estava funcionando.
Treze dos 16 municípios do estado foram atingidos. O governo federal deu aval para a Eletronorte, subsidiária da Eletrobras, atuar no restabelecimento do serviço. O Ministério de Minas e Energia autorizou a empresa a contratar “de forma célere, excepcional e temporária” até 150 MW por até seis meses ou quando houver reconhecimento de condição satisfatória de atendimento ao estado.
Via Uol