LIBERDADE DE EXPRESSÃO X DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: UM COMBATE DE GLADIADORES!
Quando uma pessoa resolve cursar Direito, a primeira coisa que aprende é que essa ciência é inseparável da sociedade. Onde houver gente, haverá o Direito. O mundo não anda sem leis, e leis não nascem do nada. São filhas do fato social, moldadas pelo julgamento coletivo e elaboradas para que todos as obedeçamos.
Você já deve ter notado que o mundo mudou, e muda constantemente, senhores! Passamos do tempo dos recados rabiscados em papel para o redemoinho das redes sociais. O sujeito digita, provoca os outros, inflama corações e, em segundos, vira mocinho ou vilão. E, no meio desse tumulto, nos vemos diante de um embate que faria qualquer gladiador suar bastante: a tal da liberdade de expressão contra a dignidade da pessoa humana. Qual deve sobreviver?!
Houve tempo em que abrir a boca sem a permissão do rei custava a cabeça. Hoje, ao menos em terras brasileiras, a Constituição nos garante o direito de falar, gritar, reclamar, criticar. Mas cuidado! O direito à liberdade de expressão não está sozinho no mundo e deve ser compreendido de forma equilibrada. Ele tem limites, tem fronteiras e o que se diz pode ferir, destruir, aniquilar uma reputação mais rápido do que a picada de um escorpião. Por isso, o anonimato é proibido, e que Deus nos livre de um mundo onde ninguém se responsabiliza pelo próprio veneno!
Mas quem se importa com barreiras quando se tem, no recôndito do seu lar, uma tela, um teclado e um possível exército de “likes”? Os tribunais da internet estão mais lotados do que o Maracanã em final de campeonato entre Vasco e Flamengo. A nova arena não é de gladiadores, mas de comentaristas com perfis falsos, gente que joga lama sem sequer mostrar o próprio rosto. E o resultado disso é um mundo onde cada um se sente o juiz supremo da vida alheia, distribuindo sentenças sumárias sem direito à defesa e certos de que não serão punidos.
O escárnio, a maldade, o prazer insaciável de cancelar quem ousa pensar diferente é a praga moderna. Como em uma grande arena de gladiadores, a multidão de espectadores apenas aplaude e pede sangue! Parece até que vendo a dor dos outros, esquece-se da sua própria, sem imaginar, entretanto, que amanhã poderá ser ela mesma a divertir a plateia…
Já a vítima perde o emprego, a família, a reputação, a sanidade. E o mais assombroso é que muitas, diante dessa tempestade, acabam desejando não mais viver. Pois é, meu amigo, você pode sobreviver a uma facada, mas dificilmente sobreviverá a um linchamento virtual!
As perguntas que não querem calar: como proteger a dignidade humana sem levar ao chão da arena a liberdade de expressão? Como evitar que criminosos em meios digitais se escondam na sombra do anonimato? Como responsabilizar quem propaga mentiras tão escandalosas que fariam um velho jornal sensacionalista enrubescer?
Dizem que a censura é uma peste. E é! Mas também é um câncer permitir que a palavra vire punhal, que a mentira se espalhe como fogo em palha seca e que o respeito pelo outro seja tratado como algo irrelevante.
Urge, pois, uma solução! Que se convoquem especialistas, que se debatam as leis existentes, que se investigue quem lucra com o caos. As redes sociais não podem continuar sendo uma terra sem regramento, onde qualquer um se arvora em dono da verdade e destrói vidas por puro esporte. Se as emissoras de rádio e TV têm regras, por que as big techs escapariam imunes? Querem ganhar dinheiro no Brasil? Pois que tenham responsabilidades no Brasil!
Que cada um fale o que quiser, critique o que lhe aprouver, mas que o faça com a cara lavada e a coragem de assumir a autoria. Liberdade, sim. Mas sem esquecer que do outro lado da tela existe um ser humano com a dignidade que lhe é inerente!
E quanto às mentiras disseminadas? Bem, estas não merecem respeito, nem tampouco perdão. Merecem o rigor da lei! E que seja rápido, para que, quem sabe um dia, possamos migrar, de uma vez por todas, do espetáculo dos horrores para um mundo civilizado!