? 40 anos sem Bob Marley: Celebre a obra do mestre do reggae ouvindo discos clássicos
Há quarenta anos, em 11 de maio de 1981, o mundo deu adeus a Bob Marley, deixando órfãos milhares e milhares de fãs ao redor do mundo e também o reggae, a música que ele ajudou a popularizar e difundir ao redor do planeta, tendo se tornado praticamente sinônimo do gênero.
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Marley morreu vitimado por um câncer de pele – os médicos sugeriram que ele amputasse o dedão do pé para tentar conter o avanço da doença, algo que o músico rejeitou por ir contra suas crenças religiosas – ele era um fiel adepto do rastafarianismo.
Apesar de uma vida curta, apenas 36 anos, Marley deixou uma obra bastante extensa, tanto que muito material inédito veio à tona nestas quatro décadas. Sua carreira pode ser dividida essencialmente em duas fases.
Primeiro temos os anos em que ele gravou em sua Jamaica natal, uma obra vasta que começa em 1962, ano em que ele completou 17 anos, e se estende por uma década. Menos conhecida, as dezenas e dezenas de faixas que ele, ao lado dos Wailers, gravou nestes anos apareceram em diversas coletâneas “de fundo de quintal”, especialmente na era de ouro do CD, ainda que tentativas mais sérias de organizar esse material também tenham sido feitas.
Seus quatro primeiros álbuns também são desse período, “The Wailing Wailers” foi o primeiro deles, saindo em 1965, e “The Best of The Wailers” (que não é uma coletânea, apesar do título) fechou o ciclo em 1971.
A segunda fase se inicia quando os Wailers assinam com a Island Records em 1973. A gravadora, a princípio, tentou vendê-los como uma banda de rock, havia também espaço para que Peter Tosh e Bunny Wailer aparecessem.
Os Wailers originais se separaram depois de dois discos, e, a partir de 1974, os trabalhos passaram a ser creditados a Bob Marley and the Wailers. Na Island, grava seu material mais conhecido e celebrado, são nove trabalhos de estúdio, sendo um póstumo, e mais dois ao vivo.
Abaixo selecionamos cinco discos fundamentais para se entender toda a dimensão da obra de Bob Marley.
“Soul Rebels” – 1970
Para quem quiser conhecer os anos de formação dos Wailers, existem compilações como “The Birth Of A Legend” que são, no mínimo, fascinantes, não só por mostrarem um gênio em criação, mas todo um gênero musical, com a batida do ska sendo desacelerada e as influências da black music dos EUA sendo incorporadas, resultando no som que, anos depois, se convencionaria chamar de reggae.
“Soul Rebels” saiu em 1970, quando Marley e seu grupo já tinham bastante experiência, e foi produzido por outro mestre da música jamaicana: Lee Perry. Mais cru do que os discos posteriores, ele flagra os Wailers em fase transicional e é um dos grandes LPs da história do reggae.
“Catch A Fire” – 1973
O disco que deu início a uma revolução, mesmo que não tenha vendido muitas cópias quando de seu lançamento original. Os Wailers assinam com a Island de Chris Blackwell que, sentindo o potencial do material, sugeriu que eles o deixassem mais palatável para o público branco e roqueiro. Marley concordou e, assim, as canções gravadas na Jamaica ganharam teclados feitos por John “Rabbit” Bundrick, que depois iria trabalhar com o The Who, e, em algumas faixas, a guitarra de Wayne Perkins, que, chegou a ser cotado para fazer parte dos Rolling Stones (a vaga ficou com Ronnie Wood).
“Catch A Fire” não chegou a fazer sucesso imediato, mas daqui saíram clássicos como “Stir It Up” e “Concrete Jungle”. A edição deluxe do discos traz, além do álbum lançado mundialmente, a mixagem original, mais “roots”, feita para o público jamaicano.
“Live!” – 1975
Os dois shows que Marley fez no Lyceum em Londres, em 17 e 18 de julho de 1975, se tornaram lendários, daqueles que quem viu não esquece, e foram fundamentais para aumentar a popularidade do músico. Felizmente, os concertos foram gravados e deram origem a um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos.
O LP original tinha sete músicas e não buscou reconstruir o espetáculo, mas trazer uma amostra de como era a banda, agora já sem Peter Tosh e Bunny Wailer no palco, e também dar uma resumida nos últimos dois discos de estúdio, “Burnin”” e “Natty Dread” para quem ainda não os conhecia.
A versão de “No Woman No Cry” se tornou a definitiva e o trabalho avançou mais nas paradas de sucesso, ainda que discretamente (nº 43 no Reino Unido e 92 nos EUA).
A edição abaixo é a deluxe e traz a íntegra dos dois shows:
“Exodus” – 1977
Ideal para quem quer ouvir um disco que é, simultaneamente, denso, pop, romântico e com canções que fazem pensar, “Exodus” ganha cada vez mais espaço como o melhor álbum de estúdio para quem busca uma porta de entrada para o rico universo do músico.
Dividido em duas metades, a primeira lida com temas religiosos e culmina com a faixa-título, é uma das maiores obras-primas da segunda metade do século 20. O antigo lado B era mais “mundano”, com canções sobre amor e sexo e um festival de clássicos: “Jammin'”, “Waiting In Vain”, “Three Little Birds” e “One Love / People Get Ready”.
“Exodus” já foi relançado com material extra em mais de uma ocasião. A edição abaixo é a de 30 anos, com muita coisa a mais para o fã se deliciar:
“Legend” – 1984
Poucas coletâneas são tão “soberanas” quanto essa. Há até a piada de que este é provavelmente o único disco de reggae presente na maioria das casas, o que não chega a ser uma afirmação de todo absurda, já que o álbum ganhou, desde o seu lançamento, 15 discos de platina nos EUA e outros 13 no Reino Unido.
Isso não significa que ele seja perfeito, há um grande número de músicas de “Exodus” (cinco) em detrimento a outros álbuns (nenhuma de “Rastaman Vibration”, e “Natty Dread” só é presentado pela versão ao vivo de “No Woman No Cry”). Ainda assim, ele cumpre a função de dar uma pequena resumida na carreira do músico e é agradabilíssimo de se ouvir, mas, como quem leu esse texto até aqui, já está claro que, quando o assunto é Bob Marley, o buraco é mais embaixo.
A edição abaixo é a relançada, que veio com duas faixas extras: “Easy Skanking” e “Punky Reggae Party”.
? © CC0/Eddie Mallin
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