O real brasileiro é a terceira moeda que mais perdeu valor frente ao dólar desde o início de 2020, em uma lista com 121 países. O país está atrás apenas da Zâmbia e da Venezuela. Veja a lista completa ao fim. 

Do começo do ano até o fechamento de setembro, na quarta-feira (30), o real acumulava queda de 28,5% em relação ao dólar. Na Zâmbia, que vem de um processo de renegociação da dívida externa e de inflação descontrolada, na casa dos 15% ao ano, o kwacha caiu 29,8%. Na Venezuela, que também convive há anos com recessão e hiperinflação, o bolívar já caiu quase 90%. 

O levantamento foi feito pela agência de avaliação de risco Austin Rating a pedido do CNN Brasil Business, e leva em consideração a variação acumulada até o fechamento de setembro.

Na quinta-feira (1º), o dólar fechou valendo R$ 5,65, uma alta de 41% em relação ao começo do ano. Para chegar à depreciação, padrão mais usado nas comparações internacionais, é feita a conta inversa: R$ 1 comprava US$ 0,24 no começo de janeiro, e agora compra apenas US$ 0,17. Daí a queda de 28%. 

A lira turca, com depreciação de 23,1% ante o dólar, o peso argentino (-21,4%) e o rublo, da Rússia (-19,9%), são outros que aprecem pouco depois do Brasil na lista dos 10 piores desempenhos do ano.  

Entre as moedas latinas consideradas, o peso chileno, com perda de 4,2% ante a moeda norte-americana, e o boliviano, que está estável, são os que menos sofreram com a instabilidade global que levou a uma alta generalizada do dólar no mundo. 

Entre aqueles que acabaram saindo desse chacoalho com a moeda mais forte estão países desenvolvidos como o Japão, com alta de 2,8% do iene frente ao dólar, e a Zona do Euro: a moeda única do bloco europeu subiu 4,3% ante a norte-americana. 

Por que cai mais?

Desde o início da crise do coronavírus, que levou a uma onda de insegurança e incerteza no mundo todo, o dólar entrou uma tendência de valorização forte frente a boa parte das moedas do mundo. 

Isto aconteceu por um movimento dos grandes investidores globais resgatando suas aplicações espalhadas por aí, em especial dos países emergentes, que são mais instáveis, e levando de volta para perto de si, nos países desenvolvidos.

São, no entanto, as particularidades de cada país que fazem com que essa fuga aconteça com mais intensidade em uns do que em outros. 

“O Brasil tem um quadro fiscal preocupante e não tem atratividade”, disse o diretor executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme. “Há um desajuste nesta estrutura de juros muito baixos e câmbio muito altos em que estamos. Pela gravidade da situação fiscal os juros tinham que estar mais altos”

Tudo isso, afirma ele, tem aparecido com clareza na grande dificuldade que o Tesouro Nacional vem tendo para conseguir vender seus títulos públicos no mercado e seguir alongando a dívida já alta. Desconfiados com a recente guinada do governo para um discurso de gastos maiores, os investidores estão pedindo juros mais altos para aceitar dar o dinheiro.

Os juros muito baixos são, por si, um fenômeno que tende a afastar investidores de fora – se os juros de países de risco mais alto, como os emergentes, caem rápido e se aproximam do de outros considerados de risco menor, o dinheiro dos investidores tende a ir embora para o mais seguro. Isso é dólar saindo diariamente do país e derrubando o valor do real no mercado. 

A Selic, taxa básica de juros do Brasil, que está atualmente na mínima de 2% ao ano, caiu rápido e ficou abaixo inclusive que os níveis soberanos de juros de outros emergentes.

A instabilidade política, que passa pela falta de articulação do governo e pelas declarações polêmicas mundo afora, é também uma das razões mencionada com frequência pelos economistas que pesam contra a moeda doméstica.

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