Discussão sobre alternativas ao dólar ganha força e provoca reações no cenário global 📸 © Pxfuel

O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos reacendeu debates globais sobre o uso do dólar nas relações comerciais. Recentemente, o republicano sugeriu que taxaria em 100% os produtos de países do Brics, caso o bloco buscasse substituir o dólar como moeda padrão. A declaração polêmica foi acompanhada por críticas de líderes como o presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou que forçar o uso do dólar pode gerar um efeito reverso, intensificando a busca por alternativas, como moedas nacionais.

Para entender os desdobramentos, o professor Paulo Borba Casella, de Direito Internacional da Faculdade de Direito (FD) e do Grupo de Estudos sobre o Brics (Gebrics) da USP, explica que a discussão sobre alternativas ao dólar não é nova e já se materializa em algumas regiões. “A Rússia, desde a invasão da Ucrânia a partir de fevereiro de 2022, está excluída do sistema internacional de pagamentos, o Swift, e, portanto, tem usado a própria e outras moedas de parceiros comerciais. Isso já é uma realidade em relação à China em algumas operações comerciais também, e o Brasil já se mostrou simpático à utilização de outras moedas em mais de uma ocasião. Então essa realidade já existe.”

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Estados Unidos

Casella acredita que as declarações de Trump, embora controversas, têm como principal objetivo agradar o eleitorado interno. “Ele está usando o estilo Trump de truculência para impor pela força o que poderia ser conversado, é absolutamente lamentável, ultrapassado e desnecessário como discurso. Essa ameaça pode ter um efeito reverso”, alerta o especialista.

Na visão do docente, o fortalecimento de acordos como o Mercosul-União Europeia, em paralelo a essas ameaças, reforça a ideia de que o mundo não depende exclusivamente dos Estados Unidos. “O dólar é largamente usado em um grande número de operações comerciais por países cujas vendas e compras passam pelos Estados Unidos porque é prático como uma unidade de conta e uma moeda relativamente estável. Pressão do governo americano de ‘usem o dólar ou serão castigados’ me parece ridículo e fora de propósito, e com risco de atuar de uma maneira contraproducente”, observa Casella.

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Brasil

Sobre a posição brasileira, Casella destaca que o País tem se mostrado um defensor de maior autonomia no comércio internacional. No entanto, ele aponta desafios técnicos para a implementação de uma moeda unificada entre os países do Brics, enfatizando a necessidade de alinhamento de políticas monetárias e cambiais. “A existência de alternativas para o comércio internacional sempre deve ser buscada. A questão é encontrar uma moeda que seja aceita como unidade de conta entre parceiros comerciais de diferentes Estados. Muito se falou no passado a respeito de uma moeda unificada para o Mercosul, ainda que fosse como unidade de conta. Eu sempre fui muito cético em relação a isso, porque é preciso haver uma grande convergência de políticas monetárias e cambiais dos Estados participantes de um acordo regional, de cooperação ou de integração para poder alcançar um patamar como esse”, explica.

Com muitos investimentos dos Estados Unidos no Brasil, o professor entende que, mesmo que isso gere um diálogo menos fluido e cordial, a diplomacia entre os dois países não deve ser alterada. “De qualquer forma, é importante ressaltar que o fato de sobretaxar importações de outros países não é só uma punição ao outro país, que inviabiliza praticamente qualquer produto; isso significa também inflação, desemprego e problemas na economia interna dos Estados Unidos, então, além de ele não ter poder de impor aos países do Brics uma medida como essa, esse tipo de medida não afeta só os outros países, tem reflexos negativos para o mercado americano”, conclui.

As informações são do Jornal da USP

|📸 © Gerd Altmann/Pixabay

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