|🚮 Resíduos têxteis respondem por até 8% das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo

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Cerca de 4 milhões de resíduos têxteis são descartados todos os anos nos domicílios brasileiros. Os dados foram divulgados pela consultoria internacional S2F Partners, um hub de inteligência especializada em gestão de resíduos e economia circular. No ano passado, cada domicílio do País descartou cerca de 44 quilos de roupas e calçados. A estimativa é que o setor têxtil seja responsável por 2% a 8% das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Francisca Dantas Mendes, professora do curso e da graduação em Têxtil Moda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e coordenadora do NAP- Sustexmoda (Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Sustentabilidade no Setor Têxtil e Moda), destaca que no Brasil não há uma gestão de resíduos, porque isso é muito complexo.
“A quantidade de resíduos gerados no processo produtivo é muito alta, em torno de 15% a 20% do processo de corte é descartado como resíduo no departamento de corte. Isso significa os espaços no decote, na cava, onde vai ser colocada a manga, no cavalo das calças, nos encaixes, porque não dá o encaixe 100%, e nas aparas das laterais esse é um volume muito grande. O processo ideal, que seria circular, que seria pegar esse resíduo, enviar para ser desfibrado e gerar o novo fio, isso não dá para acontecer porque as fibras são misturadas. Então, tem mistura de algodão com poliéster, poliéster com elastano e isso complica para fazer um processo circular voltado para fazer um novo fio e fazer um novo tecido e voltar para fazer roupa. Então é por isso. É muito mais fácil comprar um tecido novo, esticar com o molde em cima e cortar; e também porque não há consciência do que é o impacto negativo desses resíduos no meio ambiente. Há algumas empresas que já olham para isso com um certo cuidado, mas a informalidade no nosso setor não tem ainda condição de olhar para isso.”
Além dos diferentes tipos de tecidos com várias camadas, cores e materiais diferentes que são cortados ao mesmo tempo com o molde, ninguém quer pagar muito. Segundo a professora, “tudo tem que ser muito rápido, tem que ser muito otimizado, eles não querem ter uma preocupação de reaproveitar esse resíduo fazendo um subproduto ou uma necessaire, um porta níquel. A maioria das empresas não pensa em reaproveitar, quer descartar de qualquer maneira.”
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Invisibilização
A coordenadora do NAP explica que não há uma cobrança do próprio setor têxtil. Na lei dos resíduos sólidos de 2010 não consta a palavra têxtil dentro do texto, ela só foi incluída a partir de 2022. Apesar da mudança, não há uma responsabilização do setor por seu descarte, ou seja, é um jogo de empurra-empurra, explica a especialista. “Ninguém acha que é responsável por isso. A confecção acha que seria o têxtil, as empresas de tecelagem acham que são as confecções, as empresas de fibra também não se veem envolvidas nisso. Então, existe uma tendência de invisibilização desse volume de resíduo descartado.”
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Atualmente, há tecidos das mais variadas origens no mercado. Por este motivo, é difícil o seu reaproveitamento. O NAP conta com várias pesquisas com soluções para reaproveitamento desse material. Pode ser realizado um “reaproveitamento do fio, do tecido, a desfibragem faz um novo fio, faz um fio mais grosso, faz uma manta que é colocada entre os edredons, os resíduos trabalham com patchwork, com novo retecido ou aproveita os tamanhos maiores para produção de novos produtos, as mantas fazem enchimentos, há, sim, possibilidades de resíduo zero no aterro sanitário”.
Na Europa, há muitas empresas que atuam no reaproveitamento de tecidos. As roupas pós-consumo são higienizadas e redistribuídas para a população de extrema necessidade ou servem para a criação de novos produtos. Francisca explica que existe uma indústria upcycling organizada. “Já vi várias lojas, vários brechós lá, a compra de segunda mão é muito normal lá. São várias possibilidades de eliminar e não termos esse resíduo, excesso de tecido descartado indo para os aterros sanitários ou sendo queimados.”
Por Simone Lemos, do Jornal da USP
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