NĂșmero de estupros aumenta quase 15% no Brasil em seis meses, revela pesquisa
📾 © Marcello Casal Jr./AgĂȘncia Brasil

A cada oito minutos, uma menina ou mulher foi estuprada no primeiro semestre deste ano no Brasil, o maior nĂșmero da sĂ©rie iniciada em 2019 pelo FBSP (FĂłrum Brasileiro de Segurança PĂșblica). Foram registrados 34 mil estupros e estupros de vulnerĂĄveis de meninas e mulheres de janeiro a junho, o que representa um aumento de 14,9% em relação ao mesmo perĂ­odo do ano passado. 

Os dados compilados pelo FĂłrum, divulgados nesta segunda-feira (13), mostram ainda que a quantidade de feminicĂ­dios e homicĂ­dios femininos cresceu 2,6% no perĂ­odo, em comparação ao mesmo perĂ­odo de 2022. Foram 722 mulheres vĂ­timas de feminicĂ­dio — quando o crime ocorre por razĂ”es de gĂȘnero. Mais 1.902 foram assassinadas e tiveram o caso registrado como homicĂ­dio. Para a entidade, os nĂșmeros revelam que o Estado brasileiro continua a falhar na tarefa de proteger suas meninas e mulheres.

Para Isabela Sobral, supervisora do nĂșcleo de dados do FBSP, a Lei Maria da Penha Ă© um mecanismo importante para prevenir o assassinato de mulheres. “A lei coloca o instrumento da medida protetiva de urgĂȘncia, fundamental para prevenir a violĂȘncia contra a mulher e o feminicĂ­dio. É importante que essa ferramenta seja de fato utilizada. Em diversos estados, existem estudos que mostram que as mulheres que sĂŁo vĂ­timas de feminicĂ­dio, em sua maioria, nĂŁo possuĂ­am medida protetiva de urgĂȘncia contra o seu agressor”, disse.

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“Isso tem que ser feito pelo fortalecimento da rede de atendimento, que vai acolher essa mulher em situação de violĂȘncia, oferecer opçÔes para ela que muitas vezes ela nĂŁo tem ou sente que nĂŁo tem. A gente precisa capacitar as polĂ­cias para fazer um atendimento adequado dessa mulher. É muito importante que elas estejam capacitadas para fazer isso da forma adequada e apresentar esses instrumentos, como a medida protetiva de urgĂȘncia, que sĂŁo fundamentais para a proteção dessa mulher”, acrescentou.

Isabela Sobral ressalta ainda a necessidade de que os policiais estejam capacitados para investigar e identificar adequadamente os casos de feminicídio entre os homicídios, jå que hå uma diferença consideråvel na classificação do crime entre os estados.

“A respeito dos feminicĂ­dios, essa classificação depende de uma interpretação da autoridade policial, jĂĄ que estamos falando de registros policiais nesse levantamento. Quem faz essa classificação Ă© o delegado, nesse primeiro momento e apĂłs a investigação. HĂĄ estados que tĂȘm percentuais acima de 70% de feminicĂ­dios registrados em relação ao total de homicĂ­dios de mulheres, e outros estados com um percentual de apenas 20%”, afirmou.

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Subnotificação

Os dados de violĂȘncia compilados correspondem aos registros de boletins de ocorrĂȘncia em delegacias de PolĂ­cia Civil de todo o paĂ­s. Como hĂĄ subnotificação de casos de violĂȘncia sexual, os nĂșmeros de estupro podem ser ainda maiores.

“Cabe ressaltar que os estupros são um tipo de crime geralmente, tipicamente, muito subnotificados por motivos diversos, seja porque a mulher tem medo de registrar, ou porque não compreende que aquilo pelo que passou se tratou de um estupro, ou porque se trata de uma criança ou uma pessoa vulnerável, que não consegue identificar ou que tem medo, não consegue falar, confia naquele autor”, disse Sobral.

Um estudo recente do Instituto de Pesquisa EconĂŽmica Aplicada (Ipea) sobre a prevalĂȘncia de estupro no Brasil, com dados de 2019, estimou que apenas 8,5% dos crimes desse tipo que ocorrem no paĂ­s sĂŁo registrados pelas polĂ­cias, e 4,2%, pelos sistemas de informação da saĂșde. “Se assumirmos esse mesmo percentual de casos notificados para este ano, temos cerca de 425 mil meninas e mulheres que sofreram violĂȘncia sexual nos primeiros seis meses de 2023”, indicou o relatĂłrio do FBSP.

A supervisora do nĂșcleo de dados do FBSP acrescenta que a maioria dos autores de estupros Ă© uma pessoa conhecida da vĂ­tima e tambĂ©m que a maior parte dessas vĂ­timas Ă© de vulnerĂĄveis. Em relação Ă  tipificação nos boletins de ocorrĂȘncia, 74,5% dos casos de estupro registrados no primeiro semestre do ano foram de estupro de vulnerĂĄvel. Isso significa que as vĂ­timas tinham menos de 14 anos ou eram incapazes de consentir o ato, fosse por enfermidade, fosse por deficiĂȘncia mental ou qualquer outra causa em que ela nĂŁo pode oferecer resistĂȘncia. As informaçÔes sĂŁo do R7.

|📾 © Geovana Albuquerque/AgĂȘncia BrasĂ­lia

RĂĄdio Centro Cajazeiras

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