Maioria que votou contra fundo eleitoral de R$ 5 bilhões usa dinheiro na campanha 📸 © Antonio Augusto/Câmara dos Deputados

Na frente das câmeras, eles fizeram discursos contundentes contra o fundão eleitoral de R$ 5 bilhões, mas, longe dos holofotes, aceitaram usar o dinheiro que condenaram. Dos 167 deputados e senadores que se posicionaram contra a reserva bilionária em votação e nas redes sociais, justificando ser uma “excrescência”, uma “vergonha”, uma “aberração”, 124 estão usando o dinheiro para financiar suas campanhas neste ano.

Os candidatos podem abrir mão de receber os recursos e utilizar apenas doações de pessoas físicas. Nesses casos, o partido pode direcionar o dinheiro para outros postulantes ou, até mesmo, devolver para os cofres públicos, mas não foi o que ocorreu na maioria dos casos.

O deputado Major Vitor Hugo (PL-GO), ex-líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara, o senador Rodrigo Cunha (União-AL), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e Bia Kicis (PL-DF), da tropa de choque do Palácio do Planalto no Congresso, estão entre os críticos do fundão que mais pegaram dinheiro dessa verba. Vitor Hugo e Rodrigo Cunha têm em comum candidaturas a governo de Estado.

Conforme levantamento, 117 deputados e sete senadores que votaram contra o fundão de R$ 5 bilhões aceitaram receber R$ 188 milhões para gastar na eleição. A lista é reforçada ainda por estrelas de um campo e outro da política, como os deputados Carla Zambelli (PL-SP), André Janones (Avante-MG) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O governo federal já repassou aos partidos políticos os R$ 5 bilhões do fundão eleitoral. No total, 31 agremiações receberam os recursos. E R$ 3,3 bilhões já entraram na conta das campanhas.

“Fundão vergonha”

Na época da votação que definiu o fundão de R$ 5 bilhões, Vitor Hugo classificou a verba como um “exagero”. Hoje, candidato ao governo de Goiás, é o parlamentar do “grupo dos contra” que mais usou o dinheiro na sua campanha, um total de R$ 7 milhões, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“É uma vergonha. Incompatível com a realidade do Brasil e um desrespeito aos brasileiros. Sou totalmente contra”, escreveu o senador Rodrigo Cunha (União-AL) no seu Facebook em dezembro de 2021. Não passaram nove meses para o senador mudar o discurso. Agora candidato ao governo de Alagoas, ele já aceitou receber R$ 6 milhões do “fundão vergonha”. Ao Estadão, disse que “quem determina os valores repassados são os partidos” e que foi contra o aumento do valor do fundo e não o mecanismo de financiamento. Pelas regras, o senador poderia recusar receber o valor.

O deputado André Janones também votou contra o fundão eleitoral de R$ 5 bilhões. Para seus 318 mil seguidores no Twitter, disse que o valor era uma “desconexão” com a realidade do Brasil. “Não é justo, não é certo, não é moral”, postou em julho do ano passado. Agora candidato à reeleição, o deputado recebeu meio milhão para bancar sua campanha. “Eu votei contra o aumento, e não pelo fim do fundo. Usei em 2016, usei em 2018, usei este ano e vou continuar usando enquanto o fundo existir”, afirmou ao Estadão, ressaltando que, se não usasse, o valor iria para outros candidatos do seu partido.

“Excrescência”

A deputada Bia Kicis, por exemplo, recebeu R$ 2 milhões do fundão para bancar sua tentativa de renovar o mandato. Foi a sexta candidata do PL que mais ganhou dinheiro dessa fonte entre todos os seus colegas.

No ano passado, Kicis foi contra o fundão de R$ 5 bilhões e postou um vídeo para seus 1,4 milhão de seguidores no Instagram associando os recursos à corrupção: “Nós somos os deputados que combatem a corrupção e somos contra o fundão”. Pouco mais de um ano depois, a deputada mudou o discurso.

Também candidato à reeleição, o deputado Eduardo Bolsonaro recebeu R$ 500 mil do fundo eleitoral. No ano passado, o filho do presidente da República classificou o fundão de R$ 5 bilhões como uma “excrescência” em vídeo divulgado para seus quatro milhões de seguidores no Instagram.

Da mesma forma, a deputada Carla Zambelli votou contra e condenou o fundão de R$ 5 bilhões, segundo ela “uma aberração”, “um escárnio”, algo “inaceitável”. No Facebook, dizia para seus 2,8 milhões de seguidores que “sempre foi contra dinheiro público em campanha”. Como candidata, aceitou recebeu R$ 1 milhão para financiar sua reeleição.

O único partido que rejeitou o fundão de R$ 5 bilhões em votações no Congresso, nas redes sociais e manteve essa posição na campanha foi o Novo. A sigla, de atuação voltada a setores do empresariado, abriu mão de R$ 87,7 milhões para financiar a eleição de seus 479 candidatos a deputados federal e estadual, senador, governador e presidente. Nesse caso, como a decisão de não receber é do partido, os recursos voltam para os cofres públicos.

📸 © Edilson Rodrigues/Agência Senado

Rádio Centro Cajazeiras

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