Lula com os presidentes dos Poderes da República no Palácio do Planalto, Rosa Weber, presidente do STF, Vital do Rêgo, presidente em exercício do Senado, e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. Firmes na defesa da democracia 📸 © Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com governadores dos 27 estados para discutir ações conjuntas entre os governos estaduais e federal, com intuito de evitar que se repitam ou se espalhem as ações terroristas como as que atingiram, no domingo, a Praça dos Três Poderes. Em um gesto histórico e simbólico, Lula finalizou a reunião convidando todas as autoridades a caminharem até o prédio depredado do Supremo Tribunal Federal (STF) para “uma visita em solidariedade” à presidente da Suprema Corte, ministra Rosa Weber, e aos demais ministros.

O ato inédito foi acompanhado pela imprensa. As autoridades entraram nas instalações do Supremo para conferir os estragos e, em meio aos destroços, o presidente da República e os governadores lamentaram os ataques. Ao ser questionado se houve falha na segurança em Brasília, Lula disse que não irá procurar culpados.

Lula com os presidentes dos Poderes da República no Palácio do Planalto, Rosa Weber, presidente do STF, Vital do Rêgo, presidente em exercício do Senado, e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. Firmes na defesa da democracia 📸 © Ricardo Stuckert/PR

“O que eu acho é que houve uma falha, porque ninguém esperava aquilo como aconteceu. Foi um ato de vandalismo. Afinal de contas, nós tínhamos tido no domingo anterior a maior festa democrática que Brasília teve conhecimento. Jamais alguém esperava”, disse o presidente em frente ao STF, cercado pelas autoridades dos Três Poderes.

Lula disse acreditar que mesmo os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não devem concordar com os atos. “As pessoas decentes, que são de direita, mas que têm apenas divergência ideológica, que têm caráter, são pessoas que têm interesse pelo Brasil, eu acho que essas pessoas não concordam com o que aconteceu aqui. O que aconteceu aqui deve ser apenas interesse de uma pequena minoria, um bando de vândalos, um bando de bandidos que fizeram isso, e nós vamos descobrir, mais cedo ou mais tarde, quem financiou”, frisou.

O presidente disse ter fé de que nada parecido aconteça novamente. “Eu acho que isso não voltará a ocorrer num futuro próximo, porque, a partir do que a gente viu aqui, eu acho que todos nós temos a obrigação de fortalecer a democracia, e isso vai acontecer”, concluiu.

Em frente ao Supremo, o ministro Luís Roberto Barroso repudiou os atos de vandalismo e disse que a caminhada conjunta das autoridades até o STF representa a pluralidade. “Acho que representa a pluralidade que esteve presente na reunião de todos os governadores, representa um país que precisa se reerguer depois de um momento extremamente destrutivo que nos envergonhou perante o mundo. Pessoas que se apresentam como patriotas e envergonham a pátria, pessoas que se apresentam em nome de Deus que evidentemente não merecem o reino dos céus. Até o Cristo essa gente que fala em Deus arrancou da parede e jogou no chão”, comentou.

Retorno dos trabalhos

Mais cedo, na reunião no Palácio do Planalto, a presidente da Corte, ministra Rosa Weber, reforçou a importância da unidade nacional, após os ataques terroristas. “Eu estou aqui, em nome do Supremo Tribunal Federal, agradecendo a iniciativa dos governadores e governadoras, do Fórum dos Governadores, de testemunharem a unidade nacional de um Brasil que todos nós queremos no sentido da defesa da nossa democracia e do Estado Democrático de Direito”, afirmou.

Povo nas ruas, “Sem anistia”

Na paulista tomada, milhares de pessoas marcharam em defesa da democracia 📸 © Gabriela Moncau/Brasil de Fato

A Avenida Paulista foi tomada por milhares de manifestantes em defesa da democracia. Convocado pelas frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular e pela Coalizão Negra por Direitos, o protesto em São Paulo se juntou a dezenas de outros organizados pelo Brasil em reação ao ataque golpista de bolsonaristas aos três Poderes em Brasília, no último domingo (8). 

A palavra de ordem que mais se ouviu foi “sem anistia”. A demanda se volta, em especial, à responsabilização do ex-presidente Bolsonaro pelos crimes cometidos durante seu mandato. Mandato este cujos últimos dois dias ele já passou nos Estados Unidos, onde permanece desde que não tem mais foro privilegiado.

A reivindicação, já expressa com força pela multidão que compareceu à posse do presidente Lula, ganha agora novos contornos, com a exigência de que sejam responsabilizados os participantes do intento golpista e, principalmente, seus financiadores, impulsionadores e as autoridades estatais coniventes. Entre elas, o governador do Distrito Federal afastado por 90 dias pelo STF, Ibaneis Rocha (MDB), e seu secretário de segurança exonerado, Anderson Torres. 

“Ja derrubamos Bolsonaro nas urnas, vamos derrubar o bolsonarismo nas ruas”, afirmou integrante da Uneafro no microfone. No carro de som em frente ao MASP, enfeitado, entre outras, com uma grande bandeira do dr. Sócrates Brasileiro, parlamentares como Eduardo Suplicy (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e Carolina Iara (PSOL) e ativistas de movimentos como MST, MTST, MNU e Unegro se alternaram em falas rechaçando a tentativa de golpe e reafirmando a legitimidade da decisão das urnas que elegeu o novo governo petista.

Por volta das 20h, as cerca de 60 mil pessoas começaram a caminhar em direção ao centro da cidade, acompanhadas de projeções nos prédios com dizeres como “sem anistia” e “recua fascista”. Com sinalizadores e bandeiras, as torcidas organizadas dos quatro grandes times de futebol do estado – Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos – marcaram presença no protesto. 

Bolsonarista com arma

A frente do ato já havia chegado ao seu ponto final, na praça Roosevelt, quando perto das 21h, um bolsonarista entrou no meio dos manifestantes que ainda desciam a rua Augusta, com uma arma na mão, e foi rendido por um grupo antifascista. “O que te inspira a estar aqui?”, pergunta um manifestante em um vídeo que mostra Marco Akira Fujimoto já imobilizado. “Vim matar vocês”, responde.

O homem foi detido pela Polícia Militar, segundo a qual a arma era de ar comprimido e foi comprada pelo Mercado Livre por R$1500. Em depoimento, Fujimoto teria dito que toma remédios controlados. Depois, foi liberado. 

Reocupar as ruas

“Os democratas têm que sair para a rua. Não tínhamos quase 500 mil pessoas em Brasília naquela festa linda? Agora a gente sai da rua, deixa esses lunáticos tomarem conta das ruas dizendo que eles são o povo? É importantíssimo a gente voltar a estar nas ruas”, afirmou Chico Malfitani, um dos fundadores da Gaviões da Fiel.

“Como a gente abriu a estrada com uma facilidade tremenda? Foi só aparecer e eles fugiram. Deixaram as faixas, deixaram tudo. Mesma coisa na marginal, deixaram até moto com a chave”, disse, em alusão à atuação da Gaviões da Fiel para desobstruir rodovias que foram bloqueadas por bolsonaristas depois do resultado da eleição presidencial.

Nani Sacramento, da direção nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), afirmou que “a manifestação está dando um contraponto para o acontecido estúpido de ontem em Brasília, contra a nossa democracia”. “Foi um ato ilícito, criminoso na verdade, nazista. A força popular não é isso”.

“A gente veio mostrar para eles, primeiro, que aquele lugar não é só deles, é nosso. Nós somos a maioria e essa maioria falou nas urnas no dia 30 de outubro que Luiz Inácio Lula da Silva ia tirar o Brasil da escuridão, ia tirar o Brasil do buraco em que Bolsonaro jogou”, disse. “Democracia não é aquilo de ontem. Democracia é o que vocês vão ver hoje”, completou a ativista.

📸 © Ricardo Stuckert/PR

Rádio Centro Cajazeiras via Correio Braziliense e Brasil de fato

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