🏨 Hotelaria prevê investimento de R$ 5,7 bilhões no Brasil e chegada de grandes marcas internacionais
Com investimento de R$ 77 milhões, Anantara Mumucabo, na Bahia, deve abrir em 2025 📸 © Divulgação
Por Daniela Caravaggi, da CNN Brasil
O ano de 2023 tem tudo para ser lembrado como o verdadeiro ano da retomada do setor hoteleiro do Brasil. Após anos dramáticos que envolveram crises econômicas e uma pandemia, enfim, os números começaram a animar os players do mercado que enxergam o país com grande potencial de desenvolvimento para os próximos cinco anos.
De acordo com o relatório Panorama da Hotelaria Brasileira de 2023, produzido pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e HotelInvest, a previsão de investimento é de R$ 5,7 bilhões em hotéis urbanos até 2027, com 108 novas unidades, sem contar os que já estão a todo vapor no segmento de lazer, principalmente os resorts e hotéis boutiques.
Só neste início do ano grandes grupos anunciaram apostas milionárias em diferentes regiões do país. Dentre elas a vinícola chilena Vik, que investirá quase R$ 500 milhões em seu hotel em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo; Faena, do grupo Accor; a luxuosa marca Anantara, do Minor Hotels; a portuguesa Vila Galé; e representantes brasileiros como o grupo Tauá e Clara Resorts também anunciaram seus novos projetos que serão construídos no nordeste e sudeste do país.
Segundo a pesquisa Hotelaria em Números 2023, da JLL, hoje o Brasil soma 10.601 empreendimentos hoteleiros. Deste número, 994 são de marcas nacionais; 656 de marcas internacionais; 3.686 hotéis independentes com até 20 quartos e 5.265 com mais de 20 quartos.
A administradora hoteleira que lidera em termos de atuação no país é a francesa Accor, com 337 hotéis de diferentes marcas – como Novotel, Mercure, Ibis, entre outras – que têm mais de 50 mil quartos disponíveis.
“Ao observarmos nossa expansão, vemos que, após a inauguração de 23 hotéis em 2022, há planos para abrir cerca de 20 empreendimentos até o final deste ano. Além dos números, o que realmente torna o Brasil especial para mim e para a Accor são as pessoas. O caráter, a hospitalidade e o acolhimento do povo brasileiro são incomparáveis. Viajar pelo país me permite testemunhar a riqueza natural que ele oferece, desde as praias deslumbrantes até a majestosa Amazônia. O Brasil realmente tem tudo”, exalta Olivier Hick, COO Accor Brasil na divisão Premium, Midscale & Economy.
“É essencial reconhecer que ainda há oportunidades a serem exploradas, principalmente com o mercado de turismo internacional, que ainda recebemos pouco. Com estratégias bem executadas, o Brasil pode atrair ainda mais visitantes estrangeiros. E a Accor, por meio de um grande portfólio de hotéis Premium, Midscale & Economy, além dos hotéis de Luxo & Lifestyle, bem como suas iniciativas em gastronomia e entretenimento, está pronta e comprometida em apoiar e investir nesse crescimento, alinhada aos nossos valores de sustentabilidade e excelência em hospitalidade”, completa.
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Segundo Orlando Souza, presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), os anos de 2015 a 2017 foram dramáticos para hotelaria brasileira. Ele explica que em 2018 houve o início da retomada em busca dos níveis de 2013 (pré-Copa) que foi atrapalhado pela pandemia em 2020. O ano de 2023, entretanto, veio para marcar a história.
“Hoje, as taxas de ocupação estão niveladas a 2019 – por volta de 60%. O Brasil, em termos de turismo interno, tem um potencial enorme. Há uma oferta turística muito alta que ainda é inexplorada por razões estruturais. As redes estão cada vez mais interessadas pelos resorts e empreendimentos de lazer. Elas enxergam muito potencial no que vai acabar acontecendo de um jeito ou de outro. Na pandemia, as pessoas começaram a se interessar mais pelo Brasil, viajando internamente pela impossibilidade de sair do país. Assim, começou a retomada que, em 2023, na minha opinião, é a grande chave”, explica.
Cristiano Vasques, diretor da HotelInvest, faz uma análise em que acrescenta outros fatores além da pandemia para este ano ser tão importante para hotelaria, principalmente voltada ao lazer.
“O mercado de hotelaria é grande e diversificado. Divididos entre os de lazer e urbanos, os hotéis vivem fases positivas, porém distintas. Para o mercado de lazer em especial, temos vivido um momento excepcional de euforia. Isso tem a ver com as viagens mais próximas incentivadas pela pandemia, mas principalmente por conta do câmbio. Com o valor alto do dólar, o brasileiro fica no Brasil e o estrangeiro passa a visitar mais o país. Isso já começa em meados de 2015. Outro ponto importante é o renascimento e surgimento do timeshare e mercado de multipropriedade“, analisa.
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Em linhas gerais, o timeshare que ele se refere é um produto que algumas redes hoteleiras colocam à disposição em que o cliente garante o direito de uso daquela propriedade ou de parceiros durante um período pré-determinado por um prazo estipulado. Ao comprar esse ‘pacote’ por alguns anos, ele acaba adiantando uma receita para estes hotéis. Cada empreendimento tem suas regras.
“Como o mercado está aquecido, muita gente está disposta a comprar o timeshare, principalmente família com crianças pequenas. Isso acaba resultando em um mercado com bons níveis e garantias de receita. Os hotéis acabam utilizando esse dinheiro para várias coisas, como reformas e atrativos novos. Em 2023, todo mundo acreditava que com a facilidade de acesso ao exterior o mercado iria levar um tombo, mas não foi isso que aconteceu. O clima é que a economia deve melhorar. O pessoal está apostando na queda de juros e isso deve destravar ainda mais os investimentos, incentivando que os planos saiam do papel”, explica.
Vasques enfatiza sua visão otimista com o cenário hoteleiro brasileiro, mas ressalta a diferença entre os dois segmentos dentro da hotelaria: “Enxergo muita prosperidade para o setor. Enquanto a hotelaria de lazer já está gerando resultados, o mercado urbano está em um novo ciclo e espera resultados nos hotéis já existentes. Será um novo ciclo de desenvolvimento sustentado pela economia, pelo câmbio e pelo equilíbrio de oferta e demanda que deve se desenvolver nos próximos anos”, conclui.
Mundo olhando cada vez mais para o Brasil
A chegada de novos empreendimentos hoteleiros em diferentes regiões do país, com investimentos milionários de grupos internacionais revelados, vêm para comprovar todo este otimismo com dados concretos.
Em junho, a Vik, luxuosa vinícola chilena, anunciou a construção de seu primeiro hotel no Brasil em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo, em um terreno de 5 mil hectares. A marca, que tem presença também na Itália e Uruguai, fará um investimento de US$ 100 milhões (cerca de R$ 485 milhões) na unidade brasileira que terá direito a praia artificial e campos de golfe.
De acordo com a empresa, o principal motivo para a instalação de uma unidade Vik por aqui é o destaque que o Brasil possui no mercado de ultraluxo. Viajantes brasileiros são um dos principais públicos da vinícola no Chile e o hotel desembarca em solo nacional para dar continuidade à grande demanda dos consumidores da marca.
“Uma vez que o Brasil é nosso principal mercado, esse hotel nos permitirá avançar em nosso posicionamento e projetar uma consolidação importante de Vik no segmento de luxo brasileiro”, diz Gastón Williams, CEO do Vik Chile.
Quem também está chegando em solos brasileiros é a marca Faena. Fundada por Alan Faena e Len Blavatnik, ela é integrante do grupo Accor e tem unidades em Buenos Aires, na Argentina, e Miami, nos Estados Unidos.
Famosa por sua hotelaria de alto luxo, ela chega ao Brasil pelas mãos da Even, uma das maiores incorporadoras e construtoras do país com foco no alto padrão. O projeto foi concebido em parceria com o Grupo Malzoni, a quem pertencia o terreno próximo à avenida Brigadeiro Faria Lima.
Ainda sem divulgar detalhes do projeto, o terreno que receberá o complexo é de quase 20 mil m² e será dividido entre o hotel com aproximadamente 100 quartos, residências de luxo e um Art Center. O início de sua construção está previsto para o fim de 2024.
Já a Minor Hotels, proprietária, operadora e investidora hoteleira sediada em Bankok, na Tailândia, está em um momento forte de investimento no nordeste brasileiro. Dono das propriedades Tivoli em São Paulo e Praia do Forte, na Bahia, e NH Curitiba, no Paraná, o grupo inaugurou em maio deste ano o NH Feira de Santana, também no estado baiano.
O lançamento veio com o anúncio da construção de duas propriedades da marca Anantara, a mais luxuosa do grupo, para os próximos anos. A primeira será a Anantara Mamucabo Bahia Resort, com previsão de abertura para 2025 e investimento de R$ 77 milhões em parceria com o Grupo Prima. O resort ficará localizada em Baixio, um distrito no litoral norte da Bahia, a aproximadamente 150 km da capital do estado de Salvador.
O oceano e uma das maiores reservas de restinga protegidas do Brasil servirão de pano de fundo o empreendimento, que se estenderá por um terreno de 500.000 m². Serão 116 quartos, suítes e pool villas, com tamanhos que variam de 70 a 163 m².
O segundo empreendimento, com lançamento previsto para 2026, será o Anantara Preá Ceará Resort, no estado do Ceará. Localizado no município de Cruz e próximo ao conhecido destino turístico de Jericoacoara, ele é resultado de uma parceria com o Grupo Carnaúba e terá um investimento de R$ 160 milhões. Sua estrutura contará com 60 quartos e villas, 25 bangalôs residenciais, alguns incluindo piscina privativa, e uma Suíte Presidencial de 120m².
Marco Amaral, vice-Presidente de Operações e Desenvolvimento na Europa e na América do Sul da Minor Hotels, explicou o cenário de investimento do grupo no Brasil.
“Razões para investir em hotelaria no Brasil estão, por um lado, relacionadas com a dimensão do mercado doméstico, com espaço para uma oferta qualificada. O mercado internacional inbound ainda apresenta um volume modesto para a dimensão do país. Com a atratividade em termos de natureza, cultura e gastronomia, o potencial de crescimento na procura internacional é uma oportunidade. Por outro lado, o Brasil apresenta um retorno no investimento atrativo pela performance operacional e, por consequência, valorização do ativo imobiliário”, ressalta.
“Do ponto de vista imobiliário, a classe de ativo hoteleiro é a que tem maior retorno no capital investido. O Brasil não é exceção, mas curiosamente há pouca tradição de investimento no setor. Mais uma razão para considerarmos oportuno e atrativo investir em hotéis urbanos e resorts”, completa.
Outro grupo já velho conhecido dos brasileiros também anunciou novos projetos no país. A rede portuguesa Vila Galé, que conta 10 resorts no Brasil, iniciará as obras do primeiro hotel de sua linha Collection no Ceará. Com investimento superior a R$ 60 milhões, a Vila Galé Collection Sunset Cumbuco terá 124 apartamentos e estrutura de lazer completa para adultos e crianças.
Além deste projeto, o grupo também irá inaugurar no próximo ano a Vila Galé Collection Ouro Preto, o primeiro empreendimento da rede no Estado mineiro, que também terá um investimento de R$ 60 milhões. Ele ficará no colégio Dom Bosco, prédio histórico tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), que será restaurado para se transformar no hotel.
Serão 170 quartos, dois restaurantes, dois bares, sete salas de convenções, um auditório, uma capela, biblioteca, sala de jogos, Spa com piscina interior aquecida, Clube Infantil NEP com parque aquático, entre outros atrativos.
Brasil aposta no Brasil
Os grupos brasileiros, entretanto, não ficam para trás quando o assunto é olhar para o futuro da hotelaria e turismo no país. O Tauá anunciou a construção do seu primeiro resort e parque aquático em João Pessoa (PB) – as outras unidades da marca ficam em Alexania (GO); Caeté (MG) e Atibaia (SP). Com investimento de R$ 500 milhões, a chegada da rede à Paraíba já tem data marcada: o réveillon de 2026. A expectativa é que o novo empreendimento inicie a operação representando um terço do faturamento da rede – ela encerrou 2022 com R$ 425 milhões de faturamento e prevê R$ 550 milhões para 2023.
Para isso, a empresa adquiriu um terreno de 300 mil metros quadrados à beira mar da Praia de Jacarapé. O Tauá Resort João Pessoa ficará no alto de uma falésia cercado por uma extensa área de preservação ambiental. Seu projeto prevê oito restaurantes, 5 bares, 2 lounges, spa, área para convenções, sete piscinas e um parque aquático indoor de 7.000m².
“O Grupo Tauá está bastante animado com o setor de eventos, que está performando muito melhor do que nossa expectativa. O lazer continua muito forte, com as pessoas tendo o sentimento de quererem viver a vida depois da pandemia. Para os próximos anos, além do hotel de João Pessoa, pretendemos construir alguns resorts em locais estratégicos pelo país. É um objetivo nosso a partir do ano que vem buscar novas localidades para termos novos resorts com a marca Tauá Brasil afora”, enfatiza Daniel Ribeiro, CEO do Grupo.
O Clara Resorts, por sua vez, planeja a expansão da rede agora em Minas Gerais. Com resorts em Ibiúna e Dourado, no interior de São Paulo, ele anunciou no início de agosto a compra de um hotel boutique e de uma área destinada a um novo resort de luxo em Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo, que fica em Brumadinho.
Segundo informações oficiais, “centenas de milhões de reais” serão investidos pelos próximos seis anos. O montante inclui a ampliação e a finalização do hotel boutique até o final de 2024 e a construção do inédito resort até 2029.
“Estamos muito felizes com esta excelente parceria. É a aquisição de um legado em conexão com os propósitos do Grupo, ao aliar sustentabilidade, cultura e momentos especiais para serem vividos em família”, ressalta Taiza Krueder, CEO do Clara Resorts.
A construção do hotel boutique, de propriedade do empresário Bernardo Paz, foi iniciada em 2011, com projeto da arquiteta Freusa Zechmeister, e interrompida em 2014. Agora, na nova gestão do Inhotim, terá prioridade na retomada das obras. A iniciativa do Clara Resorts pretende manter o projeto original do hotel, com intervenções na área molhada para modernizar e atualizar o espaço, além de contemplar uma gastronomia diferenciada.
“Depois de tempos desafiadores, a visitação no Inhotim tem crescido. O museu recebe até 5 mil pessoas por dia, então é chegado o momento de ter um hotel próprio, que ofereça serviços de alta qualidade, proporcionando a ampliação da permanência dos visitantes no Inhotim. Não existe nada parecido no mundo como a experiência no Inhotim. Para o visitante, é algo a ser sentido”, conclui Bernardo Paz, fundador do Inhotim.
A novidade mais recente do brasileiro Fasano já é uma realidade. O grupo, que abriu as portas de sua primeira unidade no bairro do Jardins há exatos 20 anos, inaugurou seu segundo empreendimento em São Paulo em maio, no Itaim Bibi. O novo Fasano São Paulo Itaim é a décima operação hoteleira do grupo que segue em constante expansão e que, só nos últimos anos, abriu dois novos hotéis: em Nova York, nos Estados Unidos, e em Trancoso, na Bahia.
O décimo e também o maior empreendimento do grupo conta com 107 quartos, em seis categorias, entre 30 a 190 m². Projetado pelo escritório aflalo/gasperini arquitetos em parceria com Márcio Kogan, também tem uma torre residencial, que já teve todas suas unidades vendidas.
Visão daqueles que sempre apostaram no Brasil
Um dos primeiros grupos a apostar no Brasil, a rede Hilton abriu sua primeira unidade no país em 1971, na Avenida Ipiranga. Atualmente soma 19 hotéis em território brasileiro e enxerga os próximos anos como uma oportunidade significativa para expandir sua presença, explorando novos destinos brasileiros.
“Triplicamos no país em apenas cinco anos e temos mais 10 hotéis em diversos estágios de desenvolvimento. Também vemos o Brasil como um trampolim para nossas novas marcas na América do Sul. Abrimos o primeiro Tru by Hilton em Criciúma no mês passado e abriremos outro Tru by Hilton no país em Chapecó em 2024. O Brasil também abrigará uma de nossas primeiras propriedades Motto by Hilton em região, a Motto by Hilton Recife Antigo, com inauguração em 2025”, enfatiza Jorge Giannattasio, vice-presidente sênior e chefe de operações do Caribe e América Latina da Hilton.
Já a Louvre Hotels Group-Brazil é uma empresa do segmento hoteleiro subsidiada à francesa Louvres Hotels Group. Responsável pela comercialização de hotéis das marcas Royal Tulip, Golden Tulip e Tulip Inn, a rede possui em seu portfólio 15 hotéis distribuídos em sete estados brasileiros e celebra o crescimento de 24% em relação a 2022. Ela ingressou no mercado de multipropriedades e tem perspectiva de 12 novas unidades, apostando em um recorde de faturamento até o fim de 2023.
“No Brasil sempre tivemos um turismo corporativo e de negócios bem aquecido e o de lazer nem tanto. A pandemia mudou isso e o país começou a olhar para dentro, com muitas coisas para oferecer e a hotelaria de lazer e de multiproriedade em pleno desenvolvimento. Inauguramos mais recentemente o Royal Tulip Holambra, na cidade turística do interior de São Paulo. Muita gente saiu da cidade grande para ter uma vida mais natural e isso acaba movimentando mais essas cidades, onde consequentemente se vê uma possibilidade de aumento na oferta. Em cinco anos pretendemos mais do que dobrar o nosso número, com hotéis que terão um grande apelo à sustentabilidade“, projeta Paulo Michel, CEO do grupo.
📸 © Jan Claus/Pixabay
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