Padrão de compostos no sangue pode indicar gravidade de quadros de hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia 📸 © Amina Filkins/Pexels

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – A pré-eclâmpsia – uma complicação da gravidez caracterizada por hipertensão arterial associada à presença de proteínas na urina ou a dano em determinados órgãos – é a principal causa de mortalidade materno-fetal no Brasil e a segunda no mundo. Estudo brasileiro publicado na revista PLOS ONE mostrou que o padrão de substâncias presentes no sangue das gestantes acometidas varia de acordo com a gravidade do quadro. Os achados ampliam o entendimento da doença e podem dar pistas de como ocorrem as lesões nos rins, pulmões, no fígado e até no cérebro – abrindo caminho para, no futuro, preveni-las.

Apoiada pela FAPESP, a pesquisa envolveu 173 gestantes, divididas em quatro categorias: saudáveis, com hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e pré-eclâmpsia com sinais de gravidade.

Foram coletadas amostras de sangue das voluntárias com o intuito de avaliar os metabólitos presentes, ou seja, as substâncias resultantes dos inúmeros processos metabólicos ativos no organismo.

“Ao investigar o que acontece no metabolismo dessas mulheres conseguimos não só demonstrar que ele está alterado, mas também que é possível correlacionar os padrões de alteração com variáveis clínicas. Isso é importante, pois abre possibilidades para um maior entendimento da pré-eclâmpsia, sobretudo em relação ao dano causado nos órgãos”, explica Valeria Cristina Sandrim, professora do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (IBB-Unesp) e coordenadora da pesquisa. “Como os metabólitos sinalizam as vias metabólicas que estão ativadas ou desativadas, numa segunda etapa da pesquisa pretendemos investigar por que as alterações metabólicas ocorrem e como é possível intervir farmacologicamente.

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As amostras foram coletadas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e as análises metabolômicas (do conjunto de metabólitos no sangue) no campus da Unesp em São José do Rio Preto e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O estudo é o primeiro a utilizar a técnica denominada espectroscopia por ressonância magnética nuclear de hidrogênio para identificar metabólitos em amostras de pacientes com pré-eclâmpsia com sinais de gravidade e hipertensão gestacional. Realizada a partir de um equipamento multiusuário adquirido pela FAPESP, a técnica apresenta uma visão geral de todos os compostos presentes no metabolismo de um indivíduo, sem destruir ou alterar a amostra.

Foram identificados 19 metabólitos, sendo 11 deles destacados por apresentar diferença entre os grupos. As análises mostraram, por exemplo, um aumento nos níveis de acetato, N,N-dimetilglicina, glutamina, alanina, valina e creatina no grupo de mulheres com pré-eclâmpsia com sinais de gravidade em comparação ao grupo com hipertensão gestacional e de mulheres saudáveis.

Ao comparar o grupo com pré-eclâmpsia e pré-eclâmpsia com sinais de gravidade, constatou-se que, quanto maior a gravidade, mais elevadas eram as concentrações de N,N-dimetilglicina, glutamina, alanina e valina. Além disso, níveis elevados de metabólitos específicos, incluindo N,N-dimetilglicina, alanina e valina, foram associados ao aumento da pressão arterial, piores resultados obstétricos e pior função de órgãos como rins e fígado.

A análise metabolômica de mulheres com pré-eclâmpsia com sinais de gravidade indicou ainda distúrbios aumentados no metabolismo do nitrogênio, metionina e ciclos de ureia.

“O distúrbio metabólico exacerbado pode ter revelado comprometimento renal e disfunção hepática, evidenciados por níveis elevados de creatina e alanina. Essas descobertas não apenas contribuem com novos insights como também fornecem uma compreensão mais abrangente dos mecanismos fisiopatológicos em jogo em casos de pré-eclâmpsia com sinais de gravidade”, diz Sandrim à Agência FAPESP.

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Ciência translacional

A partir dos resultados, o grupo pretende focar em duas linhas de pesquisa. A primeira será verificar, em cultura celular, quais são as vias metabólicas alteradas em cada característica clínica e identificar possíveis fármacos capazes de reverter o quadro. Já a segunda, que será conduzida com apoio da FAPESP durante o doutorado de Julyane Kaihara, investigará biomarcadores para predizer o risco de pré-eclâmpsia.

“Em outro grupo de voluntárias, coletamos o soro sanguíneo antes de as gestantes serem diagnosticadas com pré-eclâmpsia a fim de identificar previamente possíveis alterações metabólicas. Isso é importante porque sabemos que nem todas as cidades têm uma maternidade especializada em controle da hipertensão. Portanto, ao identificar metabólitos marcadores que possam predizer quem vai ter pré-eclâmpsia, é possível monitorar essas gestantes de risco de modo mais efetivo”, afirma Sandrim.

O artigo Plasma metabolic profile reveals signatures of maternal health during gestational hypertension and preeclampsia without and with severe features pode ser lido em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0314053.

|📸 © Fernandasuzukimakeup via Pixabay

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