Um novo estudo publicado nesta semana corrobora com os avanços que a ciência adquire à medida que o ser humano busca conhecer como os seres vivos se formam. Com sucesso, cientistas desenvolveram células embrionárias de macaco-humano em laboratório, isto é, células fertilizadas provindas de duas espécies diferentes, tendo os embriões sobrevivido por um tempo recorde.

Cientistas criam 132 embriões com uma combinação entre macaco e humano na China – © Weizhi Ji, Kunming University of Science and Technology/Divulgação

O estudo foi publicado na revista Cell — que teve papel importante nos estudos para a criação da vacina contra o coronavírus — e detalhou a metodologia utilizada pelos cientistas para conseguir o feito. Foram injetadas células-tronco humanas pluripotentes, ou seja, capazes de produzir diferentes respostas evolutivas, em óvulos extraídos da espécie Macaca fascicularis, para o cultivo ex vivo dos embriões e, surpreendendo os especialistas, três desses embriões sobreviveram por períodos de até 19 dias, sendo um recorde nesse tipo de experimento.As quimeras macaco-homem apresentaram um dos maiores tempos de sobrevivência da história da ciência.

Com várias amostras coletadas para a realização do experimento, os cientistas observaram que cada indivíduo se desenvolveu de forma diferente, fazendo com que o tempo de sobrevivência variasse. Para o biólogo Juan Carlos Izpisua Belmonte, um dos pesquisadores que conduziu os ensaios, essa diferenciação ocorreu devido às células humanas que se proliferam em graus diferentes.

Os pesquisadores esperam que os híbridos de humanos com animais possam, futuramente, fornecer espécimes para testes de medicamentos e cultivo de órgãos humanos para transplantação. A mesma equipe que conduziu os experimentos fizeram estudos semelhantes em 2017 com embriões híbridos de humanos com vacas e porcos, além de quimeras de ratos com camundongo. Contudo, nenhum obteve tanto sucesso quanto as quimeras macaco-humanas, de acordo com Jun Wu, outro membro da equipe de pesquisa.

Células humanas não contribuem robustamente para a formação de quimeras em espécies evolutivamente distantes do homem. [Contudo,] observamos que as células humanas e de macacos cooperam entre si na construção do embrião.

Esse tipo de experimento em laboratórios divide cientistas por questões éticas, fazendo com que haja a indagação da real necessidade de criar quimeras utilizando espécies tão geneticamente relacionadas como os primatas humanos e não humanos. Os macacos são protegidos por um regulamento muito específico para experimentos, além de que pode causar oposição ou repulsa pública, conforme declara o biólogo espanhol Alfonso Martinez Arias, da Universidade Pompeu Fabra:

Há experimentos muito mais sensatos com quimeras como fonte de órgãos e tecidos. Animais como vacas e suínos são mais promissores e não correm o risco de desafiar as fronteiras éticas.

Em outra mão, os responsáveis pelas quimeras macaco-humanas alegam que não existe pretensão alguma em implantar os embriões em macacos para experimentos in vivo, tendo como único objetivo abrir um campo de visão para o melhor entendimento sobre como as células de diferentes seres vivos se comunicam.

De qualquer forma, novas diretrizes internacionais estão sendo elaboradas para regular experimentos com células-tronco, e devem ser publicadas pela ISSCR — Sociedade Internacional de Pesquisa com Células-Tronco — nos próximos meses. Algumas restrições com pesquisas em seres vivos híbridos deverão impedir que o trabalho tenha continuidade após o possível desenvolvimento do sistema nervoso dos embriões, prática que não poderia causar a revolta do público.

? © PublicDomainPictures/Pixabay

Rádio Centro Cajazeiras com Agências de Notícias

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